Connect with us

E-farsas

Pneu estoura e mata o primo do porteiro, mas atestado de óbito é de coronavírus! Será?

Conspirações

Pneu estoura e mata o primo do porteiro, mas atestado de óbito é de coronavírus! Será?

Pneu estoura e mata o primo do porteiro, mas atestado de óbito é de coronavírus! Será?

Atestado de óbito compartilhado nas redes sociais mostra que Reginaldo Jacinto da Silva morreu de COVID-19, mas a causa da morte foi a explosão de um pneu de caminhão! Será verdade?

No final de março de 2020, a mensagem abaixo começou a se espalhar no Twitter e, depois, através de grupos do WhatsApp. De acordo com o texto acompanhado de uma certidão de óbito, o primo de um porteiro, Reginaldo Jacinto da Silva, teria morrido após um pneu de caminhão estourar na sua cara. No entanto, segue o relato, a causa da morte teria sido atestada como COVID-19!

Nos grupos de WhatsApp postagens sugerem que essa “manobra” estaria sendo feita pelos governadores numa tentativa de prejudicar o presidente Jair Bolsonaro, inflando os números a respeito de vítimas do novo coronavírus.

Será que isso é verdade ou mentira?

Texto que se espalhou juntamente com o atestado de óbito: “Gente! O primo do porteiro aqui do prédio morreu pq foi trocar o pneu do caminhão e o pneu estourou no rosto dele. Receberam o atestado de óbito como se fosse o covid 19. Eles estão indignados” (fotos: Reprodução/Twitter)

Verdade ou mentira?

O curioso em publicações como essas é que vários perfis publicaram o mesmo texto quase que ao mesmo tempo. O conteúdo do texto é vago e as postagens são exatamente iguais!

Nos grupos de WhatsApp, a mesma certidão de óbito foi compartilhada diversas vezes:

Nossas pesquisas

Uma busca pelo CRM nº 24689, da doutora Ingrid Rodrigues – citada no atestado de óbito – no portal CFM e é atestado que ela está devidamente cadastrada:   

Reprodução: CREMEPE

Ao conferir a autenticidade do selo digital 0076562.SBH01202002.00895 no portal do Tribunal de Justiça de Pernambuco, podemos verificar que o registro de óbito existe, de fato. No entanto, não tivemos acesso ao conteúdo do documento:

Primeira menção não fala sobre explosão de pneu

No dia 25 de março de 2020, o Portal da Prefeitura – de Recife – publicou uma reportagem a respeito da morte do borracheiro Reginaldo Jacinto da Silva, a causa da morte não havia sido confirmada pela Secretaria Estadual de Saúde (de Pernambuco), mesmo com a certidão autenticada pelo TJPE.

O Portal da Prefeitura citou uma apuração feita pelo blog Nelia Brito, que entrou em contato com a Secretaria de Saúde questionando as razões pelas quais o óbito não constava das estatísticas e boletins daquela Secretaria. No entanto, o blog não teve nenhum retorno das autoridades.

Perceba que em nenhum momento é citado que o homem teria morrido depois por causa da explosão de um pneu de caminhão. Essa parte surgiu em publicações feitas no Twitter 4 dias depois (ver atualização do dia 31/03/2020 logo abaixo).

Certidão de óbito que circulou no final de março de 2020!

Atualização 29/03/2020 – 19h

Após a publicação desse artigo, nos chegou uma nota da Secretaria de Saúde de Pernambuco, explicando que a certidão de óbito é real, mas que o homem não morreu com o COVID-19. Leia a nota, na íntegra:

“Tem circulado pelas redes sociais uma certidão de óbito que coloca a Covid-19 como causa da morte de um homem. O caso não consta no boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, que é encaminhado diariamente ao Ministério da Saúde. Apesar da certidão ser documento verídico, o óbito não foi provocado pelo novo coronavírus. Após análises laboratoriais, foi detectada a presença de outro vírus respiratório nas amostras do paciente. A SES-PE reforça que a certidão de óbito é um documento sigiloso e que deve ser disponibilizada apenas para a família. A Secretaria conta com o apoio da população para não repassar esse tipo de informação, em respeito ao falecido e seus familiares e que não compartilhem notícias falsas.”

Também recebemos uma nota em nome do Hospital Maria Lucinda, assinado pelo médico infectologista Luciano Wagner Arraes, afirmando que o paciente deu entrada no dia 21 de março de 2020 com um quadro de pneumonia e que ele veio a falecer no dia 23. A nota atesta também que o paciente não morreu vítima de infecção por coronavírus:

Atualização 31/03/2020

Em um vídeo publicado no dia 29 de março de 2020, a deputada Bia Kicis afirmou ter conversado com a família do falecido e confirmado que ele teria sofrido um acidente envolvendo a explosão de um pneu, mas que isso aconteceu em janeiro (e não no dia anterior ao da sua morte, como vários perfis no Twitter haviam espalhado):

No dia seguinte à publicação, a Revista Veja entrou em contato com a deputada para questionar a ligação entre o acidente do estouro do pneu com a morte por Influenza e a resposta à revista foi:

“Não fui eu que relacionei, foi a família dele que relacionou. Mas isso não é o principal. O Brasil não está interessado em saber se ele morreu de estouro de pneu ou de gripe, o Brasil quer que fique claro é que ele não morreu de coronavírus, como foi colocado no atestado de óbito dele”.

A revista ouviu vizinhos do falecido, testemunhas do acidente, que disseram que o homem teria voltado a trabalhar após a explosão, sem sinais de lesão pelo corpo.

A Veja também entrou em contato com o diretor do Hospital Maria Lucinda, Luiz Alberto Pereira de Araújo, que disse que a instituição é uma unidade de retaguarda que só recebe pacientes em caso de urgência e emergência e reiterou que o suposto acidente não consta no prontuário.

Segundo o diretor, em resposta à revista:

“[…]a associação entre o acidente com pneu e a pneumonia provocada pelo Inluenza A não foi feita pelo hospital e que a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) encaminhou o paciente já com quadro grave de problema respiratório. Como ele já estava internado no Maria Lucinda quando morreu, não havia a necessidade de encaminhá-lo ao IML (Instituto Médico Legal), por isso a médica fez o atestado de óbito. A causa da morte foi insuficiência respiratória, e a Covid-19 foi incluída como fator que poderia ter causado a morte. O exame ficou pronto três dias depois e, nesse meio-tempo, foi recomendado que a família ficasse em isolamento, já que se tratava de um caso suspeito.”

Reafirmamos aqui que a morte do senhor de 57 anos nunca foi incluída nas estatísticas estaduais como decorrente de Covid-19. Ou seja, em momento algum sua morte foi usada para inflar o número de mortos pelo coronavírus, como podemos comprovar aqui.

Conclusão

Há uma certidão de óbito em nome de Reginaldo Jacinto da Silva, mas não há nenhuma prova de que ele teria morrido em decorrência da explosão de um pneu de caminhão. Em nota enviada pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, foi constatado que o homem não morreu com o COVID-19!

Obs: O conteúdo desse artigo foi alterado minutos após a sua publicação para inserir a consulta positiva ao CRM da doutora Ingrid Rodrigues. Na postagem original não havíamos encontrado o CRM da doutora no Portal CRM.

Alteramos novamente o artigo às 19h para acrescentar a nota enviada pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, atestando que o homem não morreu com o coronavírus! Também foi acrescentada uma nota enviada em nome do hospital, atestando que o paciente não apresentava infecção por coronavíus!

Fizemos mais uma alteração no artigo no dia 31/03/2020, para acrescentar um vídeo da deputada Bia Kicis, afirmando que houve um acidente com uma explosão de pneu, mas que isso aconteceu em janeiro de 2020, mas que “esse fato não tem importância para o caso”!

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

Comentários

Mais Checagens em Conspirações

Ajude a Manter o E-farsas

Lançamento

Compre o livro Marvin e a impressora Mágica de Gilmar Lopes

Voltando a Circular

To Top