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sexta-feira, março 29, 2024

Estudos comprovaram que a irisina “blinda” o corpo contra a COVID-19 e que é seguro voltar às academias?

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Circula nas redes sociais uma história de que exercícios físicos, ao estimularem a produção de um hormônio chamado irisina, “blindariam” o corpo humano contra a COVID-19. Essa narrativa vem sendo disseminada em diversas publicações em páginas ou perfis de proprietários de academias, que encontramos nas redes sociais.

Numa determinada publicação, inclusive, é mencionado que as pessoas devem voltar imediatamente às academias.

Numa determinada publicação, inclusive, é mencionado que as pessoas devem voltar imediatamente às academias

Em algumas publicações foi reproduzido tão somente o trecho inicial, com pouco menos de um minuto, de uma reportagem bem mais extensa, que foi exibida pelo “Jornal SBT” do dia 14 de agosto de 2020.

Eis o trecho da reportagem, que circula nas redes sociais:

Confira a reportagem completa, cujo título no YouTube difere daquilo que aparece na chamada thumbnail:

Entretanto, será que isso é verdade? Um estudo realmente comprovou que o hormônio irisina “blinda” o corpo contra a COVID-19? O estudo disse que as pessoas devem voltar imediatamente às academias? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Verdadeiro ou Falso?

Falso! Em primeiro lugar, ainda não houve nenhum estudo comprovando que o hormônio irisina seja capaz de “blindar”, proteger ou tornar um praticante de atividade física imune ao novo coronavírus. Aqueles que divulgam isso utilizam-se de uma lógica distorcida para chegar a essa conclusão enganosa.

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Em segundo lugar, estudos já identificaram bares e academias, por exemplo, como ambientes de supercontaminação. Nesse sentido temos um estudo publicado em junho de 2020 no Emerging Infectious Diseases, periódico ligado ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Além dele, uma tabela criada pela Associação Médica do Texas, nos Estados Unidos, classificou academias, cinemas e parques de diversão, por exemplo, como “risco alto” de contaminação.

Houve até um controverso estudo realizado em Oslo, na Noruega, que foi amplamente ventilado como se academias não representassem um maior risco de contaminação, mas vamos falar sobre isso no fim deste artigo, e mostrar que não é bem que as coisas funcionam.

Enfim! Para entender melhor toda essa história vamos destrinchá-la a seguir para vocês!

Voltando no Tempo: Um Estudo Publicado em Abril de 2020

Para vocês possam ter uma exata noção de como tudo isso começou é necessário saber, que em abril de 2020, foi publicado um estudo brasileiro intitulado “The roles of triiodothyronine and irisin in improving the lipid profile and directing the browning of human adipose subcutaneous cells“, no periódico “Molecular and Cellular Endocrinology”.

Esse estudo foi conduzido pela Dra. Miriane de Oliveira (principal autora), doutora em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), no Estado de São Paulo.

Artigo publicado em abril de 2020.

E para entender os objetivos desse estudo utilizamos como fonte as próprias declarações de Miriane de Oliveira, que foram dadas num podcast chamado “Quarentena”, do Laboratório Aberto de Interatividade da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

Lembrando que não é simples entender todo esse processo, mas vamos tentar torná-lo o menos complicado possível.

Entendendo o Estudo de Abril

Inicialmente, Miriane explicou que já trabalhava num grupo que pesquisava sobre obesidade e hormônios tireoidianos, supervisionado pela Dra. Célia Nogueira, sua supervisora. Segundo Miriane, no passado, ela já tinha realizado um estudo envolvendo, in vitro, células adiposas de camundongos que foram tratadas com hormônios tireoidianos para ver como essas células respondiam (diferentes doses, inibições etc.).

Já numa proposta de pós-doutorado era necessário ampliar o horizonte. Então, a partir de visita de um professor estrangeiro, que comentou sobre o hormônio irisina, foi despertado um interesse sobre ela. Interessante destacar nesse ponto, que a descoberta da irisina é relativamente recente, visto que ocorreu em 2012 por um grupo de pesquisa dos Estados Unidos, ou seja, sabemos muito pouco sobre ela.

Aparentemente, a aplicação exógena (de fora para dentro) da irisina melhoraria o perfil metabólico e aumentaria o gasto energético em animais. Em humanos, esse benefício só aconteceria após 10 semanas de exercício físico frequente. Portanto, soa ser um processo que dura meses, não algo exatamente imediato.

Uma Gama Muito Grande de Dados

Enfim, o estudo de abril gerou uma gama muito grande dados mostrando os efeitos do hormônio tireoidiano e da irisina no chamado tecido adiposo subcutâneo. Basicamente, esse estudo gerou um transcriptoma, ou seja, conjunto completo de transcritos desse tecido, em específico, que refletiu a expressão de mais de 14 mil genes.

Basicamente, esse estudo gerou um transcriptoma, ou seja, conjunto completo de transcritos desse tecido, em específico, que refletiu a expressão de mais de 14 mil genes.

Houve alguns resultados pontuais, mas nada relacionado a prática de exercícios físicos e qualquer eventual proteção ou imunidade contra a COVID-19. Os dados, por exemplo, indicavam que a irisina melhoraria o perfil lipídico, oxidativo, estresse e danos ao DNA, mantendo os níveis de leptina e adiponectina. Esses efeitos poderiam ser usados para a prevenção da obesidade.

Tudo tranquilo por enquanto?

Entendendo o Artigo que Será Publicado em Setembro

O estudo de abril nos leva até um artigo, que será publicado no mesmo periódico em setembro, chamado “Irisin modulates genes associated with severe coronavirus disease (COVID-19) outcome in human subcutaneous adipocytes cell culture“, cuja principal autora também é a Dra. Miriane de Oliveira.

Conforme saíam estudos mostrando possíveis relações entre genes e casos severos da COVID-19, Miriane foi buscando correlações naquela gama de dados anteriormente gerada. Assim sendo, ela foi notando que a irisina diminuía a expressão de genes que dariam uma “possível vantagem” ao novo coronavírus e aumentava a expressão de um gene chamado “TRIB3”, que daria uma “possível vantagem” ao corpo humano na inibição da infecção e replicação de vírus semelhantes ao SARS-CoV-2.

O estudo de abril nos leva até um artigo, que será publicado no mesmo periódico em setembro.

Ela ressaltou que havia poucos estudos relacionando a irisina com problemas respiratórios, mas, ainda assim, ela resolveu buscar correlações, e isso gerou o artigo que será publicado em setembro.

O artigo PROPÕE que a irisina PODE TER um efeito terapêutico em relação a COVID-19. Estamos falando aqui tão somente de uma possibilidade, não de algo comprovado. Portanto, vender a ideia de que há um estudo comprovando que atividade física “blinda” o corpo contra a COVID-19, ao menos nesse momento, é altamente enganoso.

Uma Dose de Realidade Envolvendo o Estudo de Abril que se Refletiu no Recente Artigo

Os pesquisadores fizeram testes in vitro em uma linhagem de células adiposas (adipócitos subcutâneos, responsáveis por armazenar gordura e regular a temperatura corporal), e observaram que a substância tem efeito modulador em genes associados à reaplicação do vírus no corpo humano. O resultado do estudo representa uma sinalização positiva para a busca por novos tratamentos, mas os dados são apenas preliminares. Além disso, estudo não avaliou a atividade física em si.

Os resultados encontrados in vitro não podem ser tomados como verdadeiros in vivo. Os testes in vitro encontram-se nos níveis mais básicos da pesquisa na área de saúde, mas isso não é comumente falado para as pessoas que se deparam com publicações fantasiosas nas redes sociais.

Durante o podcast, Miriane deixou bem claro que sim, a prática de atividade física é benéfica ao corpo e estimula o sistema imunológico, mas essa produção de irisina pelos músculos, durante a atividade física, não quer dizer que a pessoa não irá se infectar ou deixar de transmitir a COVID-19 para outras pessoas. Isso, portanto, nos leva a quatro pontos básicos:

  1. Teste in vitro (muito pouco para comprovar algo);
  2. Os dados são tão somente preliminares;
  3. O estudo não avaliou a atividade física em si, ou seja, não provou que atividade física, como fonte geradora da irisina, “blinda” seu corpo contra a COVID-19. Evidentemente, qualquer atividade física vai melhorar o funcionamento do seu seu corpo, logo faça exercícios em casa ou prefira sempre locais ABERTOS para a prática esportiva;
  4. O estudo apenas sugeriu o potencial terapêutico da irisina para casos de Covid-19, não que frequentar academia vai te proteger, muito pelo contrário. Se puder fique em casa e se exercite em casa.

A Lógica Distorcida

O artigo, portanto, é basicamente uma série de correlações a partir da pouca literatura que há sobre a irisina, dados de um estudo anterior, in vitro, e possível ações positivas e negativas de genes no ciclo de infecção do SARS-CoV-2 em humanos.

Entendem como pegar essa informação e dizer que as pessoas devem voltar imediatamente a uma academia é uma lógica bem distorcida?

Uma Dose um Pouco Maior de Realidade: Yoga ou uma Boa Faxina Diária em Casa Poderiam Estimular a Produção de Irisina

Muitas pessoas associam que a prática de atividade física precisa ser necessariamente dentro de uma academia. Isso não é verdade, e muito menos em relação a sugestão de caminho de pesquisa apontada pelo artigo.

Numa entrevista concedida à rádio CBN, a Dra. Célia Nogueira, professora titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu foi questionada se haveria alguma atividade física, em específico, que ajudaria na produção da irisina. E qual foi a resposta dela? Qualquer atividade física serviria, ou seja, bastaria que os músculos fossem exercitados. Resumindo, a yoga, pilates ou a prática constante de tarefas domésticas (assim como uma boa faxina em casa) poderiam fazer os músculos produzirem irisina.

Ironicamente, a limpeza doméstica, subir escadas, levar um cachorro para passear, e cuidar do jardim, por exemplo, também são atividades físicas (1, 2).

Qualquer atividade física serviria, ou seja, bastaria que os músculos fossem exercitados.

O alerta aqui é jamais ficar parado e sempre buscar se exercitar com segurança, em casa, evitando aglomerações e, principalmente, ambientes com baixa circulação/renovação do ar. Não se exponha ao risco por acreditar naquilo que empresários tentam pregar nas redes sociais.

Os próximos passos

Um estudo de 2015 apontou que a irisina é encontrada no sangue humano em concentrações de 3 a 5 ng/ml. Ela circula a ~3,6 ng/ml em indivíduos sedentários, sendo que este nível aumenta para ~4,3 ng/ml em indivíduos submetidos a um treinamento aeróbico intervalado.

Assim sendo, essa pequena diferença seria suficiente para fazer com que alguém tivesse uma infecção mais leve ou assintomática da COVID-19? Ainda estamos LONGE desse resposta, mas os próximos passos já foram dados.

A ideia agora é tratar células infectadas pelo SARS-CoV-2 com irisina e ver qual será a resposta. Esse tratamento, no entanto, será, novamente, in vitro. Será necessária dosar a quantidade de irisina em amostras de pacientes que tiveram quadros graves, moderados ou leves de COVID-19, e qual a quantidade de irisina seria necessária para que haja algum benefício real para o corpo humano.

É um longo caminho, porque envolve inúmeros fatores, e é de fundamental importância que isso também seja testado por outros pesquisadores.

Entramos em Contato com Dra. Miriane de Oliveira e a Dra. Célia Nogueira

Em resposta conjunta enviada ao E-Farsas, por email, tanto a Dra. Miriane de Oliveira quanto a Dra. Célia Nogueira disseram que todos aqueles quatro pontos que elencamos sobre o recente artigos estão CORRETOS.

Elas também afirmaram que será dada continuidade ao estudo, onde a irisina será testada na presença de células infectadas pelo SARS-CoV-2, mas ainda será in vitro. Ao final do email, ambas nos agradeceram por termos esse discernimento em esclarecer os fatos com essa reflexão que tivemos sobre a publicação.

A Fábula dos Recuperados em Relação a Atletas

Os atletas não são considerados como um grupo de risco para o novo coronavírus, mas isso não significa que a doença seja pouco preocupante para eles.

Num estudo realizado com 1527 pacientes com COVID-19, 8,0% sofreram algum tipo de lesão cardíaca aguda, incluindo a miocardite, arritmias e insuficiência cardíaca de início rápido. Atletas com histórico de doença cardíaca prévia ou casos graves da infecção pela COVID-19 apresentam maior risco, mas, em alguns casos, o acometimento cardíaco ocorreu mesmo em pacientes assintomáticos.

Os atletas não são considerados como um grupo de risco para o novo coronavírus, mas isso não significa que a doença seja pouco preocupante para eles.

Atletas aparentemente recuperados clinicamente de uma infecção comprovada (mesmo naqueles com doença leve) podem eventualmente apresentar lesão subclínica da musculatura cardíaca, o que pode ser perigoso no caso de retorno esportivo.

Além disso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 20% dos pacientes diagnosticados com Covid-19 desenvolvem pneumonia, sendo que 14% destes (inclusive atletas) desenvolvem uma pneumonia grave. A pneumonia pode provocar uma fibrose pulmonar, uma espécie de “tecido de reparo”, o que pode limitar de forma definitiva na função pulmonar.

A capacidade de exercício, nestes casos, pode se tornar limitada.

Com a Palavra Alfreda Acioly, Campeã Nacional de Fisiculturismo

Alfreda Acioly, campeã nacional de fisiculturismo, que mora na localidade de Jacy Paraná, distrito de Porto Velho, em Rondônia, contou ao Globo Esporte, em junho, como foi ter COVID-19. Segundo ela, a febre judiou bastante e foram sete dias com sintomas muito duros. Ela sofreu bastante e olha que tinha uma boa imunidade e alimentação regrada.

Aliás, em março já havia uma longa de lista de atletas que tinham sido infectados pela COVID-19, e que sofreram consideravelmente com a doença.

O Controverso Estudo Realizado em Oslo, na Noruega: É Seguro Voltar às Academias?

Para terminar este artigo é muito importante citar um estudo divulgado em junho deste ano, que se encontra até hoje em “pré-print”, ou seja, não foi publicado em nenhuma revista científica, tampouco passou pela revisão de pares.

Nele, pesquisadores noruegueses realizaram um estudo em Oslo, e concluíram que frequentar academias não aumentaria o risco de contágio pelo novo coronavírus. No entanto, vamos mostrar os problemas desse estudo e o que realmente podemos tirar de lição sobre ele.

Como Ocorreu o Estudo?

No estudo, que foi comissionado/encomendado pelo governo da Noruega, mais de 3.700 noruegueses, em cinco academias em Oslo, foram designados aleatoriamente para malhar em academias ou ficar em casa.

Mais de 80% das pessoas do primeiro grupo foram à academia pelo menos uma vez no período de estudo de 2 semanas, e quase 40% foram mais de seis vezes. O segundo grupo não tinha permissão para ir à academia e seguia com a vida como de costume. Após cerca de 2 semanas, ambos os grupos foram testados para o SARS-CoV-2 usando testes de RT-PCR.

Apenas uma pessoa em todo o estudo testou positivo para COVID-19.

Pesquisadores noruegueses realizaram um estudo em Oslo, e concluíram que frequentar academias não aumentaria o risco de contágio pelo novo coronavírus.

Dois Pontos Bizarros

Curiosamente, há dois pontos bizarros aqui. Em primeiro lugar, foram realizados apenas cerca de 3.000 testes, porque os pesquisadores “perderam” 20% dos participantes, mas eles não explicaram muito bem o motivo. Em segundo lugar, o único que testou positivo estava no grupo designado a frequentar uma academia. Os autores, no entanto, tentaram justificar isso, dizendo:

O indivíduo esteve presente no local de trabalho, onde dois outros indivíduos tiveram teste positivo para SARS-CoV-2 pouco antes do participante ter testado positivo. A transmissão provavelmente não estava relacionada à intervenção do estudo

Na conclusão, reparem bem na frase usada pelos pesquisadores: “Se medidas de higiene e distanciamento puderem ser implementadas, presumimos que seria seguro abrir instalações de treinamento“.

Repararam nas palavras? “Presumimos”, “seria”…

Aquilo que Não Fazem Muita Questão de Considerar

Todos aqueles que participaram do estudo tinham menos de 65 anos, não tinham problemas cardiovasculares, diabetes ou qualquer outro fator de risco relacionada a COVID-19. As academias adotaram uma série de procedimentos de distanciamento social e limpeza dos equipamentos (a utilização de máscara era facultativo), os indíviduos foram orientados a não irem na academia caso apresentassem algum sintoma relacionado a COVID-19, entre outras medidas.

No entanto, nas duas semanas que o estudo ocorreu houve apenas 105 casos confirmados de COVID-19 (24 na primeira semana e 81 na segunda), através de teste RT-PCR, em toda cidade de Oslo, que possui quase 700 mil habitantes. O número diário de pacientes hospitalizados em Oslo devido a COVID-19 diminuiu gradualmente durante o período de teste, de 35 pacientes em 22 de maio para 21 pacientes em 8 de junho. E o que isso que dizer? O estudo não deixou claro se o resultado refletia o baixo risco de transmissão em academias ou apenas o risco de transmissão relativamente baixo em Oslo.

O jornal “The New York Times” também apontou que o estudo não deixa claro como teriam sido os resultados com mais casos confirmados diariamente em Oslo ou em academias que negligenciassem medidas de distanciamento, promovessem aglomeração ou tivessem uma prática inadequada de higiene. E pasmem, nem alguns autores do estudo sabem responder a essas perguntas.

Um Comparativo Dramático

Como comparativo vamos pegar a cidade de São José dos Campos, no interior do Estado de São Paulo, que possui cerca de 720 mil habitantes. Desde o início da pandemia, já foram confirmados mais de 11 mil casos de COVID-19. Em toda a Noruega, que possui 5,4 milhões de habitantes, tivemos até o momento cerca de 10 mil casos. É impressionante.

Se formos considerar somente os últimos sete dias, em São José dos Campos, já tivemos mais de mil casos confirmados.

As Opiniões de Especialistas Publicadas no Site “Slate”

Em declaração so site “Slate”, Sandra Tilmon, uma epidemiologista da Universidade de Chicago, disse:

Se você não tem transmissão comunitária, não vai ter transmissão na academia. Não há como você dizer que houve uma única transmissão e dizer que ‘as academias são seguras’. Se tivermos uma baixa transmissão ao redor, então tudo estaria seguro. Essas diferentes taxas de transmissão comunitária significam que esses resultados não são generalizáveis para outras cidades

Nicole Carnegie, uma estatística da Universidade Estadual de Montana, nos Estados Unidos, também disse não acreditar que as conclusões dos pesquisadores sejam apoiadas por seus resultados:

Não há informações suficientes para fazer uma ligação sobre a diferença de risco entre os dois grupos do estudo. Na realidade, o que isso quer dizer é ‘não sabemos ‘. A taxa era tão baixa dentro e fora da academia que não podemos medir a diferença

Para entender se esse estudo realmente tem alguma relação com o comportamento na academia, ele precisaria ser replicado em cidades com prevalência variável de COVID-19, mas isso poderia ser antiético, uma vez que os frequentadores de academia em áreas com taxas de COVID-19 mais altas teriam mais probabilidade de ficarem doentes.

As Opiniões de Especialistas Publicadas no Site da Revista Science

Em declaração ao site da respeitada revista Science, Darren Dahly, um epidemiologista da University College Cork, na Irlanda, disse:

Isso não significa que as academias sejam seguras. Ao longo das semanas do estudo, Oslo reportou apenas poucos casos por dia. Isso significa que as pessoas no estudo já estavam em risco muito baixo. Possivelmente muito baixo para que uma diferença significativa fosse detectada entre os dois grupos

Emily Smith, uma epidemiologista da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, concordou:

Não houve nenhum doente que frequentou a academia neste estudo. Precisamos saber o que acontece quando as pessoas que estão doentes com COVID-19, mas talvez ainda não tenham sintomas ou tenham sintomas leves, vão para a academia, têm uma aula de spinning e compartilham um vestiário com outras pessoas

Emily também apontou para o curto período de tempo coberto pelo estudo: pessoas que começaram a ir à academia um pouco mais tarde no período de estudo podem ter sido expostas, mas podem ter sido testadas muito cedo durante o período de incubação para que o vírus fosse detectado.

A Publicidade do Estudo Sem as Devidas Ressalvas é Altamente Problemática

Mette Kalager, epidemiologista clínica da Universidade de Oslo e uma das principais cientistas do estudo, concordou que os resultados não conseguem determinar se é seguro frequentar academias em locais com alta incidência de casos de COVID-19, mas que seria seguro, quando a incidência de novos casos fosse baixa.

Enfim, de qualquer forma, o estudo pode fazer com que as pessoas perigosamente pensem que isso significa que todas as academias são seguras se houver apenas algumas medidas de higiene e um pouco de distanciamento social. Isso não é verdade!

Conclusão

Diversos assuntos foram abordados neste artigo e, portanto, iremos pontuar nossa conclusão.

1) É falsa a alegação de que haja um estudo comprovando que o hormônio irisina seja capaz de “blindar”, proteger ou tornar um praticante de atividade física imune ao novo coronavírus. Aqueles que divulgam isso utilizam-se de uma lógica distorcida para chegar a essa conclusão enganosa.

Tudo o que temos é um artigo PROPÕE que a irisina PODE TER um efeito terapêutico em relação a COVID-19. O artigo não avaliou a atividade física em si, ou seja, não provou que a atividade física, como fonte geradora da irisina, “blinda” seu corpo contra a COVID-19. Para completar, os dados apresentados no artigo foram obtidos a partir de testes in vitro e são tão somente preliminares. É um caminho promissor de pesquisa, mas é necessário ter discernimento.

Por outro lado, qualquer atividade física vai melhorar o funcionamento e o sistema imunológico do seu seu corpo, logo faça exercícios PREFERENCIALMENTE em casa ou, na pior da hipóteses, em locais ABERTOS respeitando SEMPRE o distanciamento social.

Portanto, classificamos esse ponto, ainda que temporariamente, como “Falso”.

2) Não é possível afirmar que o estudo realizado em Oslo, na Noruega, que ainda não foi publicado em nenhuma revista científica, tampouco revisado por pares, seja aplicável em regiões com um alto número de casos de COVID-19. É altamente enganoso e perigoso propagar o estudo como se ele pudesse ser aplicado em qualquer cidade do mundo, independentemente do índice de propagação da COVID-19, e das medidas individualmente ou coletivamente adotadas por academias.

Aliás, o estudo sequer deixou claro se o resultado refletia o baixo risco de transmissão em academias ou apenas o risco de transmissão relativamente baixo em Oslo.

Portanto, classificamos esse ponto como “Indeterminado”.

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Marco Faustinohttp://www.e-farsas.com/author/marco
Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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