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sexta-feira, abril 19, 2024

Macaco pilotando uma moto tentou sequestrar uma criança no Brasil?

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De vez em quando nos deparamos com situações extremamente inusitadas e, sem dúvida alguma, essa é uma delas. Isso porque, recentemente, fomos questionados sobre a veracidade de um vídeo publicado em maio de 2020, numa página chamada “Guia Muriaé” no Facebook. Essa página, por sua vez, alega pertencer a um site de notícias da cidade de Muriaé, no Estado de Minas Gerais.

Confira abaixo a publicação, que já obteve mais de 63 mil compartilhamentos:

A publicação já obteve mais de 63 mil compartilhamentos.

Assim como o referido vídeo:

 

Entretanto, será que esse vídeo é verdadeiro? Um macaco pilotando uma moto tentou sequestrar uma criança? Isso aconteceu no Brasil? Descubra agora no E-Farsas!

Verdadeiro ou Falso?

Fora de Contexto! Em primeiro lugar, o vídeo é verdadeiro, mas o áudio em português foi acrescentado posteriormente à filmagem. Acreditamos que muitos de vocês já tinham uma grande desconfiança em relação a esse ponto, não é mesmo? Em segundo lugar, o incidente não aconteceu no Brasil, mas no dia 2 maio deste ano na cidade de Surabaya, na Indonésia.

E, por último, mas não menos importante, o macaquinho não tentou sequestrar uma criança, tampouco isso se trata de alguma técnica de sequestro utilizada em países asiáticos. Na verdade, o macaco (ele realmente estava sobre uma moto de brinquedo) era parte de uma questionável forma “tradicional” (embora pareça antiga teria começado na década de 1970) de entretenimento de rua conhecida como topeng monyet (literalmente “macaco mascarado”).

O motivo? Na maioria das vezes, os macacos treinados usam máscaras minúsculas feitas de cabeças de bonecas.

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Na maioria das vezes, os macacos treinados usam máscaras minúsculas feitas de cabeças de bonecas.

Mais uma foto mostrando a prática do topeng monyet.

É interessante destacar que, embora treinados, os macacos não sabem pilotar as motos (a absoluta maioria sequer é pilotável). Eles são apenas impulsionados ou arrastados no momento da apresentação.

Os macacos não sabem pilotar as motos (a absoluta maioria sequer é pilotável), eles são apenas impulsionados ou arrastados no momento da apresentação.

O Macaco Também é uma Vítima

Segundo o site “Indonesia Expat”, o incidente aconteceu numa viela chamada Gang Mawar, no bairro de Surabaya Ocidental. O macaco estava acompanhado de um músico tradicional de gamelão (instrumento musical), na esquina dessa viela e, ao que tudo indica, acabou indo parar na direção errada ou agindo de forma “inesperada”.

Então, nos deparamos toda aquela cena do macaco, que estava preso por uma corda no pescoço (isso nem sempre fica claro porque depende da qualidade do vídeo assistido), agarrando a criança. A versão que foi disseminada pela página “Guia Muriaé” está notoriamente cortada e ampliada.

Segundo moradores locais, os parentes da criança reclamaram com o músico, que por sua vez teria batido no macaco com a baqueta (semelhante a um martelo) utilizada para tocar o gamelão. Essa cena, no entanto, não aparece no vídeo. A criança, por outro lado, teve apenas ferimentos leves.

Muitos internautas na Indonésia receberam esse vídeo com inúmeras críticas. Na época, muitos consideraram que era errado os macacos serem escravizados e usados como entretenimento para os seres humanos.

Outros alegaram que o macaco também era uma vítima, visto que essas situações geram muito estresse ao animal, que pode atacar outras pessoas ou se agarrar a pessoas/objetos numa tentativa desesperada de se livrar da corda (ou corrente) e, consequentemente, do músico (ou do seu respectivo treinador).

Uma Prática “Proibida” em Algumas Províncias da Indonésia

Há pouco mais de uma década, a Rede de Ajuda Animal de Jacarta (JAAN) iniciou uma investigação sobre o topeng monyet numa espécie de primeiro passo para proibir a prática. A organização também passou anos tentando educar o público sobre o que acontece com jovens macacos depois de serem capturados e torturados (em muitos casos fisicamente desfigurados) para aprender os ‘truques’. E por qual motivo são utilizados macacos? Por dinheiro.

Em 2013, o então governador de Jacarta, Joko Widodo, aprovou uma proibição regional do topeng monyet na capital, e alguns músicos aceitaram uma compensação do governo em troca de entregar seus macacos. Contudo, outros não estavam dispostos a desistir de sua única (ou mais garantida) fonte de renda. Então eles fizeram as malas e se mudaram para outros lugares na Indonésia.

Há até quem diga que os músicos/treinadores não seriam pessoas ruins, mas pessoas desesperadas por não terem outra fonte de renda, mas não entraremos no mérito dessa questão.

Em 2015, o governo da província de Java Ocidental emitiu uma circular (carta) sobre questões sanitárias envolvendo tais apresentações, que na prática visava “inibir” a utilização de animais. Já em 2018, a Agência de Conservação de Recursos Naturais da província de Java Oriental, cuja capital é Surabaya, também emitiu uma circular para “inibir” tais espetáculos, visto que o treinamento podia envolver tortura e maus-tratos, sem contar que as performances podiam aumentar o risco de transmissão de doenças de animais para seres humanos.

Embora essa circular emitida em 2018 não mencionasse nenhuma punição aos infratores, Rosek Nursahid, presidente da PROFAUNA — ONG voltada à conservação ambiental e combate ao tráfico de fauna — considerou o documento como um passo positivo nos esforços de garantir o bem-estar animal na Indonésia.

Proibição Nacional?

Segundo o site da revista Vice, uma proibição nacional teria sido aprovada no ano passado, mas não encontramos nada à respeito. Há quem diga que a circular de 2018 teria validade para todo o território nacional, mas, aparentemente, foi limitada a província de Java Oriental.

A JAAN Comentou Sobre o Vídeo que Viralizou em Maio

De acordo com a JAAN, a organização já reabilitou mais de 220 macacos, devolvendo-os a “habitats seguros”, que foram designados pelo governo. Outros permaneceram sob os cuidados da organização, porque não podiam ser socializados para viver com segurança entre outros macacos ou porque foram “severamente traumatizados mental e fisicamente” pelos ex-proprietários.

Eis um trecho do que a JAAN disse ao site da revista Vice sobre o vídeo:

…o governo deveria confiscar proativamente os macacos, mas, infelizmente, não é isso que tem acontecido. Nossa equipe está sempre pronta para lidar com os macacos que forem confiscados. No momento, estamos cuidando de 67 macacos ex-dançarinos resgatados e reintroduzimos mais de 220 nos últimos anos. Todos foram submetidos a um período intensivo de tratamentos, cirurgias e reabilitação antes da reintrodução na natureza.

O incidente que aconteceu é muito, muito triste, e não teria acontecido se a proibição fosse implementada em Surabaya. O pobre garoto ficará traumatizado por toda a vida. É uma reação natural do macaco atacar, visto que está frustrado e com raiva. Os treinadores removem os dentes, pois esses acidentes acontecem com frequência. Quando recebemos os macacos, eles precisam realizar muitas cirurgias e tratamentos para resolver esse problema

Conclusão

Fora de Contexto! Em primeiro lugar, o vídeo é verdadeiro, mas o áudio em português foi acrescentado posteriormente à filmagem. Acreditamos que muitos de vocês já tinham uma grande desconfiança em relação a esse ponto, não é mesmo? Em segundo lugar, o incidente não aconteceu no Brasil, mas no dia 2 maio deste ano na cidade de Surabaya, na Indonésia.

E, por último, mas não menos importante, o macaquinho não tentou sequestrar uma criança, tampouco isso se trata de alguma técnica de sequestro utilizada em países asiáticos. Na verdade, o macaco (ele realmente estava sobre uma moto de brinquedo) era parte de uma questionável forma “tradicional” (embora pareça antiga teria começado na década de 1970) de entretenimento de rua conhecida como topeng monyet (literalmente “macaco mascarado”).

Essa prática é atualmente “proibida” em algumas províncias da Indonésia, visto que os macacos muitas vezes são torturados para aprender os truques, além de oferecerem riscos à saúde pública.

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Marco Faustinohttp://www.e-farsas.com/author/marco
Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Eu assistindo essa cena e a única coisa que eu consegui pensar era: “coitado do macaquinho”.
    Mas é claro, espero que a criança esteja bem rsrsrs.

  2. Eu assistindo essa cena e a única coisa que eu consegui pensar era: “coitado do macaquinho”.
    Mas é claro, espero que a criança esteja bem rsrsrs.

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