Animais
Peixe Panga Perigo para a saúde! Verdadeiro ou falso?
E-mail afirma que o peixe Panga ou peixe gato importado faz mal a saúde dos brasileiros e pede para que o consumidor não compre o alimento. Será verdade?
Em outubro de 2011, um texto alarmista começou a circular pela web! O autor estaria desesperado para que avisássemos para o maior numero de pessoas a notícia de que não deveríamos comer o tal peixe Panga. Segundo o texto (que, na verdade, surgiu aqui no Brasil em 2009), o tal peixe estaria contaminado com altos níveis de venenos e bactérias nocivas à saúde humana!
Mas será que o texto é verdadeiro ou falso?
Analisando o e-mail – que sofreu várias alterações com o passar do tempo – podemos verificar que ele possui vários indícios que caracterizam uma boa farsa da web:
- Cita nomes de entidades para dar mais crédito à notícia;
- É impreciso e contraditório em vários pontos;
- Apela para o lado emocional do leitor;
- Usa em certos trechos letras maiúsculas para chamar a atenção do leitor;
- Não cita as fontes de onde a tal noticia foi retirada;
- Não é datado;
- Trata de um assunto que interessa a muitos leitores: a saúde;
- Pede para ser repassado para o maior numero de pessoas possível;
Logo no primeiro parágrafo, o texto afirma:
“REPASSANDO COM URGÊNCIA – FATO COMPROVADO – REPASSEM PARA TODOS OS SEUS CONTATOS…”
Já começa bem! Repasse para todos os seus contatos um fato comprovado. Comprovado por quem?
Mais abaixo, o texto cita a ASAE (Sociedade Americana de Engenheiros Agrônomos), mas não mostra nenhum link ou recorte de jornal para comprovar que a tal Sociedade tenha publicado tal notícia.
O autor (ou quem acrescentou o texto na mensagem original) ainda mistura o perigo do consumo do peixe Panga (Pangasius hypophthalmus) a uma contaminação que teria ocorrido na época em que o presidente do Brasil era o Sarney. Trecho igualmente sem datas ou fatos concretos que atestem a veracidade da informação.
Quem escreveu o texto afirmou que um dia estava comendo em um restaurante self-service quando teve a curiosidade de examinar um dos filés de peixe. Na verdade, o autor afirma que levou o peixe para análise, mas não apresenta nenhuma prova ou o resultado dessa análise. Será que teria levado a um laboratório? Será que a análise foi feita ali mesmo, no restaurante?
O texto prossegue e afirma que dentro das postas do peixe servido havia filamentos e esses filamentos eram vermes de dois centímetros. Será mesmo?
E ainda: Ao analisar o peixe, o autor concluiu que a amostra era “de água doce, proveniente de rios extremamente poluídos de excrementos, dejetos e toda sorte de poluição biológica, física e química devido, entre fatores diversos, à maciça ocupação de barcos que servem de vias e moradias que constituem aglomerados populacionais de pessoas carentes de serviços sanitários e salutares”! Que análise, hein?
Uma dúvida: Será que essa análise feita em apenas um filé vale para todos os peixes Panga?
Mais adiante, o e-mail afirma que:
“Os Pangas estão infestados com elevados níveis de venenos e bactérias. (arsênio dos efluentes industriais e tóxicos e perigosos subprodutos do crescente setor industrial, metais pesados, bifenilos policlorados (PCB), o DDT e seus (DDTs), clorato, compostos relacionados (CHLs), hexaclorocicloexano isómeros (HCHs), e hexaclorobenzeno (HCB)).”
Um parágrafo com tantos nomes complicados e com muitas siglas. Com tantas informações assim dá até preguiça de verificar se o parágrafo é real! É mais fácil repassar o texto. Mas será que tudo isso é verdade?
De acordo com uma análise feita em novembro de 2009 pela DECO Proteste (Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor) – onde foram testadas 5 marcas de filé de Panga congelado – foi encontrada uma bactéria chamada Listeria monocytogenes, porém em uma quantidades tão insignificantes que não chegam a ameaçar a saúde de ninguém!
Além disso, a DECO também não encontrou metais pesados e tampouco resíduos de medicamentos anti-infecciosos.
Também é bom ressaltar que, conforme observado pelo site Agrolink, “O Panga é cultivado há mais de mil anos no Rio Mekong, no Vietnã, um dos maiores rios do mundo, localizado no sudeste asiático. Há muitos anos, é exportado para mais de 240 nações, entre elas os Estados Unidos, todos os países da Comunidade Européia, Japão, Rússia, Austrália, entre outros. Só este fato bastaria para atestar sua qualidade e segurança para o consumidor. Ainda assim, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil realizou uma série de análises nesta espécie, com o objetivo de confirmar a alta qualidade do produto, que foi aprovado sem restrições.”.
Notícias sobre intoxicação
Pesquisando por noticias sobre o peixe Panga nas versões online dos jornais A Folha de São Paulo e do Estadão não encontramos nada sobre casos de intoxicações ou envenenamento relacionados ao consumo do dito peixe. Será que a mídia estaria escondendo o fato? A troco de quê? Se algum leitor do E-farsas.com encontrar alguma notícia a respeito, favor enviar o link pra nós!
Continuando.
O e-mail ainda afirma no próximo parágrafo que não há nada de natural nos Pangas! Sinceramente, não dá para entender o que querem dizer com isso. Não é natural um peixe que come restos de peixes mortos?
O autor do texto também compara o Panga às vacas loucas que, segundo ele, seriam vacas que se alimentavam de vacas. Segundo o Como as Coisas Funcionam, acredita-se que nos anos 1990 a doença que atacou as vacas teria sido causada pelo consumo de ração contaminada. Como boa parte da ração britânica era composta por ossos de carneiros (e a doença surgiu primeiro nesses bichos), deduziu-se que a doença teria se propagado dessa forma. Em carneiros. Não em vacas!
A seguir, o texto alerta:
“Basicamente, são peixes com hormônios injetáveis (produzidos por uma empresa farmacêutica na China) para acelerar o processo de crescimento e reprodução. Isso não pode ser bom.”
Apesar do e-mail não dizer o nome da empresa farmacêutica chinesa, e importante avisar que o tratamento de peixes com o uso de hormônios não é exclusividade do Panga. Outros peixes também recebem essa “ajudinha” de seus criadores com hormônios naturais e/ou sintéticos. Será que esses hormônios fazem mal apenas ao Panga? A solução seria banir todos os peixes das refeições?
No trecho abaixo, o autor do texto alarmista conta que:
“Ao comprar Pangas estamos colaborando com empresas gigantes sem escrúpulos e gananciosas que não se preocupam com a saúde e o bem-estar dos seres humanos.”
O parágrafo acima talvez sintetize uma insatisfação de muitos produtores nacionais que estariam tentando boicotar a
importação do peixe vietnamita. Um exemplo disso é a notícia publicada no JusBrasil mostrando que a importação do peixe Panga teria sido suspensa em 2010 em Santa Catarina (e no resto do Brasil). O motivo: O preço do peixe importado estava abaixo do valor do peixe produzido aqui no nosso país. O mesmo motivo também é apontado por Jomar Carvalho Filho em seu artigo sobre a concorrência desleal que o importado teria sobre os nacionais.
Essa briga com os importados também ocorre em outros países: A agência de notícias BBC conta que nos Estados Unidos as autoridades do comércio decidiram impor tarifas extras sobre importações de produtos vindos de 2 países da Ásia.
Origem
Ao que tudo indica, o texto foi escrito em um blog de uma moça chamada “Pris” em junho de 2008. O texto não está mais online, mas é possível resgatá-lo com a ajuda do WebArchive nesse link. Pris, conforme ela mesma afirma em sue blog, está (ou estava) morando no Vietnã e escreveu esse texto baseando-se em um documentário em francês e também nesse texto sobre o Panga. Alguém, em algum momento, traduziu o tal artigo e espalhou em português.
Conclusão:
Até onde se sabe o peixe Panga não é venenoso e não faz mal para quem o consome. Todavia, assim como todos os alimentos, é preciso que se tenha higiene ao prepará-lo. Verifique também a procedência de tudo que vai comer.