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terça-feira, abril 16, 2024

Conheça a verdade por trás da foto de uma criança venezuelana que viralizou nas redes sociais!

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Provavelmente, você já deve ter visto a foto de uma garotinha, chorando e segurando um pão, circulando no Facebook, Twitter, e em grupos do WhatsApp. Sem dúvida alguma, é uma cena muito comovente. Para muitos mostraria, mais uma vez, a triste realidade vivida pelo povo na Venezuela. Ainda mais pelo fato, que inúmeras publicações disseram que aquela era a primeira refeição da garotinha.

Se você ainda não viu, eis a foto completa:

Provavelmente, você já deve ter visto a foto de uma garotinha, chorando e segurando um pão, circulando no Facebook, Twitter, e em grupos do WhatsApp.

Entretanto, será que a foto foi tirada na Venezuela? Será que estamos realmente diante de uma garotinha venezuelana? Descubra a verdade agora, aqui, no E-Farsas!

Verdadeiro ou Falso?

Essa foto é verdadeira, mostra realmente uma criança venezuelana, mas não foi tirada na Venezuela! Ela foi tirada em Boa Vista, no Estado de Roraima! Vamos explicar direitinho essa história por trás dessa foto para vocês, que inicialmente tive ajuda do Janne Ahlberg, do site HoaxEye, um dos maiores nomes quando o assunto é desmentir fotos tiradas de contexto ou manipuladas digitalmente, e do usuário Gabriel Augusto, que pertence ao nosso grupo, no Facebook (convido a todos para entrarem, clicando aqui).

A foto foi tirada por Maria Clara Bianchetti, moradora de Manaus e voluntária na terceira edição de uma Missão chamada “Duc In Altum” promovida pelo movimento eclesial “Aliança de Misericórdia”, que possui sede no bairro da Bela Vista em São Paulo. Segundo esse movimento, a Missão tem como objetivo levar a Palavra de Deus à lugares de difícil acesso. Assim sendo, neste ano de 2019, o objetivo inicial era chegar até a Venezuela, onde aconteceriam as evangelizações em Ciudad Bolívar. A Aliança mantém uma missão permanente, na Venezuela, desde 2013.

Padre João Henrique, fundador da Aliança de Misericórdia, relatou que a missão de evangelização foi bloqueada na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, que permanece fechada por ordem do presidente venezuelano Nicolás Maduro, desde o dia 21 de fevereiro. Na impossibilidade de entrarem no país, todos os 33 participantes (voluntários, missionários e padres) da Missão voltaram para Boa Vista, capital de Roraima. Na cidade há muitos refugiados venezuelanos morando nas ruas, e em situação de precariedade extrema.

Na impossibilidade de entrarem no país, todos os 33 participantes (voluntários, missionários e padres) da Missão voltaram para Boa Vista, capital de Roraima. Na cidade há muitos refugiados venezuelanos morando nas ruas e em situação de precariedade extrema

Assim sendo, os participantes da Missão foram até um acampamento de refugiados. Somente as crianças até 13 anos são abrigadas em barracas, e comem apenas uma refeição no dia. Muitas famílias, crianças, mães e pais que vieram em busca de melhores condições, atualmente vivem na miséria, isso sem contar a prostituição e a fome, que são realidades muito presentes.

Assim sendo, os participantes da Missão foram até um acampamento de refugiados. Somente as crianças até 13 anos são abrigadas em barracas, e comem apenas uma refeição no dia. Muitas famílias, crianças, mães e pais que vieram em busca de melhores condições, atualmente vivem na miséria, isso sem contar a prostituição e a fome, que são realidades muito presentes.

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No fim da tarde do dia 24 de fevereiro, aconteceu uma Missa celebrada pelos padres Marcelo e Evandro. A Homilia foi feita em português e traduzida em espanhol, para que todos os presentes pudessem compreender e viver aquela Palavra, que contou com um lindo momento de oração, onde todos clamavam por paz e também perdão. Ao final dessa Missa foram servidos lanches para os venezuelanos. Foi nesse exato momento, que Maria Clara Bianchetti registrou a imagem de garotinha venezuelana segurando um pão, aparentemente com queijo e presunto, com lágrimas nos olhos e ao mesmo tempo com um largo sorriso. Eis o testemunho de Maria Clara, que foi publicado no site oficial da Aliança de Misericórdia:

Ontem, por volta das 17h30, este pão foi dado por mim a esta criança e ela chorou quando deu a primeiro mordida. Meu coração muito mais. Do povo venezuelano, tudo lhes foi tirado. A dor física é dolorosa, mas a dor da alma nos machuca muito e dói, profundamente, muito mais!

É necessário ir, com Jesus, de encontro ao sofrimento da alma de cada um destes, para que assim não percam a esperança, não deixem de sonhar e, principalmente, para que nunca se esqueçam que Deus não as desamparam

No fim da tarde do dia 24 de fevereiro, aconteceu uma Missa celebrada pelos padres Marcelo e Evandro. A Homilia foi feita em português e traduzida em espanhol, para que todos os presentes pudessem compreender e viver aquela Palavra, que contou com um lindo momento de oração, onde todos clamavam por paz e também perdão.

Ao final dessa Missa foram servidos lanches para os venezuelanos.

Essa foto também foi publicada nas páginas, brasileira e venezuelana, da Aliança de Misercórdia, no Facebook. Porém, o texto que acompanhava a foto, até a manhã de ontem (27), não dizia em momento algum que aquele pão era a primeira refeição do dia daquela garotinha, ao contrário de diversas outras publicações paralelas, de outras páginas, que alegavam isso, e consequentemente ajudaram de forma considerável a viralizar a foto.

Um outro detalhe que também chamou a atenção é que a postagem na página brasileira também sofreu uma curiosa alteração. Confira a modificação:

Um outro detalhe que também chamou a atenção é que a postagem na página brasileira também sofreu uma curiosa alteração.

Então, isso quer dizer que essa parte da história foi inventada para dar um ar mais dramático a foto? Para tirar essa dúvida fomos até o perfil de Maria Clara Bianchetti, no Facebook, e constatamos, que originalmente, no dia 24 de fevereiro de 2019, ela realmente publicou a foto alegando que aquela era a primeira refeição do dia da garotinha, ou seja, essa parte da história não foi inventada posteriormente a viralização!

Ontem, ela chegou a modificar sua postagem, que já foi compartilhada mais de 33 mil vezes, porém acrescentou apenas o nome da Missão e Comunidade Aliança de Misericórdia de Boa Vista/RR, nada além disso.

Então, isso quer dizer que essa parte da história foi inventada para dar um ar mais dramático a foto? Para tirar essa dúvida fomos até o perfil de Maria Clara Bianchetti, no Facebook, e constatamos, que originalmente, no dia 24 de fevereiro de 2019, ela realmente publicou a foto alegando que aquela era a primeira refeição do dia da garotinha, ou seja, essa parte da história não foi inventada posteriormente a viralização!

Ela também chegou a publicar essa foto em sua conta no Instagram:

Publicação de Maria Clara em sua conta no Instagram

Quem é a Garotinha da Foto?

Segundo o site oficial da Aliança de Misericórdia, a garotinha da foto chama-se Nelcimar, tem 4 anos, e possui uma irmã mais nova chamada Samanta. Assim como tantas outras crianças e adultos, ambas vivem atualmente em um campo de refugiados próximo à rodoviária de Boa Vista. Seus pais, Nelson Fernandez, 41 anos, e Karianny Delgado Nazaret, 22 anos, fugiram da miséria e da situação de precariedade que a Venezuela se encontra em busca de um futuro melhor. Os pais alegam que levaram 10 dias para chegar até Boa Vista, vindo da Venezuela para o Brasil, sendo que passaram 5 dias em Pacaraima/RR, processando a documentação. Para chegar em Boa Vista foi uma viagem de 4 dias. A Aliança de Misericórida supôs, que eles fizeram todo o percurso a pé, pois da fronteira até Boa Vista, a viagem de carro dura aproximadamente três horas.

Quando perguntados sobre o que tiveram que deixar para traz, teria sido perceptível pela voz, que muitas lembranças lhes vieram à mente. “Deixamos nossas famílias, nossos amigos, deixamos tudo para buscar um futuro melhor para nossas filhas. Tudo o que temos vivido deste governo até hoje nos deixou sem nada, sem comida, sem saúde, sem medicação. Neste momento na Venezuela não há nada. É lamentável o que estamos vivendo agora“, disse Nelson. Já para Karianny o sentimento de saudade e a incerteza sobre o bem estar dos seus familiares também apertava.

Não é fácil para mim, todos os dias eu choro, eu preciso da minha mãe, dos meus irmãos, da minha família. Eu não sei como eles estão, pois não consegui me comunicar com eles. Mas não consigo decidir entre minha família e minhas filhas. Primeiro minhas filhas! Se eu estou na Venezuela e elas ficarem doentes, não há medicamentos ou comida. Não podemos estar na Venezuela“, disse Karianny.

Segundo o site oficial da Aliança de Misericórdia, a garotinha da foto chama-se Nelcimar, tem 4 anos, e possui uma irmã mais nova chamada Samanta. Assim como tantas outras crianças e adultos, ambas vivem atualmente em um campo de refugiados próximo à rodoviária de Boa Vista.

Como gostaria de ainda estar lá, mas ficar seria egoísmo, não tinha como ficar e deixar minhas filhas passarem fome. Não é fácil deixar a sua família da noite para o dia, como eu gostaria que também estivessem aqui. Não estamos muito bem, não dormimos vendo as meninas com fome. Estamos dormindo na rua, mas eu prefiro estar aqui do que na Venezuela, pois não é fácil ter uma casa e não ter o que comer. As crianças adoecem e muitas delas morrem porque não têm recursos médicos!“, ressaltou.

De acordo com a Aliança de Misericórdia, há por aí quem diga que a situação da Venezuela é apenas uma invenção midiática, ou ainda que as histórias estão sendo distorcidas e que os venezuelanos são antipatrióticos, mas não é bem assim.

Me deixa muito triste deixar meu país, pois eu o amo muito. Mas dou mil bênçãos ao Brasil por nos receber, é um país bonito e nobre. Chegamos com o desejo de trabalhar, aqui é possível ter uma oportunidade para o trabalho e de saúde. Aqui duas vezes fiquei doente e também uma das meninas. Lá na Venezuela você pode ter todo o dinheiro do mundo, mas seu filho morre, porque não há nada“, disse Nelson.

Foto de uma outra criança venezuelana tirada por Maria Clara.

Karianny finalizou a entrevista com uma mensagem de paz: “Não perca a esperança, esperanças são as últimas perdidas. Algum dia a Venezuela vai melhorar e poderemos voltar para a Venezuela. Lá todos nós temos casa e família”.

Conclusão

A foto é verdadeira, mostra realmente uma criança venezuelana com lágrimas nos olhos ao receber um pão de sal, aparentemente com fatias de queijo e presunto, porém não foi tirada na Venezuela. A foto foi tirada em Boa Vista, capital do Estado de Roraima.

Segundo a autora da foto, Maria Clara Bianchetti, a garotinha chorou assim que deu a primeira mordida no pão, e aquela teria sido sua primeira refeição no dia. Nas fotos que foram divulgadas pela Maria Clara e pela Aliança de Misericórdia também é possível notar que foram oferecidos biscoitos, pães com queijo e leite com chocolate para as crianças.

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Marco Faustinohttp://www.e-farsas.com/author/marco
Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Muito triste a situação dos venezuelanos no seu país de origem e aqui no Brasil. Moro em Manaus e vejo várias famílias em busca de sustento e trabalho. Mas infelizmente problemas de verdade não interessam a maioria dos brasileiros. Preferem ficar de mimimi em posts falsos sobre política com centenas de comentários, enquanto esse post sobre um problema real não tem nenhum comentário.

    • Pois é, Lucas! Infelizmente, a realidade não é muito interessante atualmente, apenas uma torpe guerra infinita de narrativas por meros interesses próprios ou partidários.

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