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A NASA afirmou que um asteroide poderá atingir a Terra em outubro de 2019?

Falso

A NASA afirmou que um asteroide poderá atingir a Terra em outubro de 2019?

A NASA afirmou que um asteroide poderá atingir a Terra em outubro de 2019?

Desde o início de julho de 2019, uma alarmante notícia vem sendo veiculada em inúmeros sites de notícias. Basicamente, a absoluta maioria das manchetes menciona, que a NASA teria dito, que um asteroide denominado “2007 FT3” poderia atingir nosso planeta! Quando? No dia 3 outubro deste ano. Como exemplo dessa divulgação podemos citar os sites “Olhar Digital” e “Metrópoles“.

Segundo o “Olhar Digital”, o “FT3 possui tem um poder equivalente a 2.700.000.000 de toneladas de TNT e pode acabar com a vida humana“. Porém, ainda de acordo com o texto, “a probabilidade de impacto, apesar de existente, é baixa: para a aproximação de 3 de Outubro deste ano ela é de uma em 11 milhões, ou seja, há 99.9999908% de chances de ele errar o alvo“. Já o “Metrópoles” disse: “com altíssimo poder destrutivo, o asteroide passará perto da Terra 165 vezes entre 2019 e 2116“.

Trecho da notícia publicada pelo site “Olhar Digital”.

Trecho da notícia publicada pelo site “Metrópoles”.

E não foram somente sites de notícias que divulgaram essa história. Diversos canais no YouTube, desde aqueles de caráter conspiratório até aqueles que prometem levar a sério aquilo que abordam, vêm ajudando substancialmente a alimentar o caos com títulos e thumbnails visivelmente sensacionalistas. Enfim!

De qualquer forma, será que algum ponto dessa história é verdadeiro? O “2007 FT3” passará próximo da Terra em outubro deste ano? Ele está vindo realmente em nossa direção? Caso estivesse, ele realmente acabaria com a civilização humana? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Verdadeiro ou Falso?

Falso! O asteroide “2007 FT3” não irá passar próximo da Terra em outubro de 2019. Isso está previsto apenas para 11 de outubro de 2068, quando o asteroide deve passar a uma distância de 24 milhões de quilômetros da Terra (0.16 AU). Para vocês terem uma ideia, a Lua está a uma distância média de 384 mil quilômetros do nosso planeta, ou seja, o “2007 FT3” deve passar cerca de 62,5 vezes a distância da Lua em relação a Terra. E isso é uma distância significativa.

Para completar, não há nenhum comunicado ou nota da NASA sobre uma eventual ameaça ou possibilidade de colisão em outubro deste ano. Tudo que temos é uma péssima divulgação científica por parte de inúmeros sites e diversos canais no YouTube.

Num hipotético cenário de colisão, o “2007 FT3” também não acabaria com a civilização humana. Portanto, se você leu ou ouviu isso em algum lugar, saiba que mentiram para você. Lamentável! Porém, é isso que ocorre, quando a divulgação científica é trocada por cliques.

Vamos explicar direitinho como essa história surgiu e o que existe de realidade por trás disso.

Como Tudo Isso Começou a Circular na Mídia?

Toda essa história sobre um possível impacto do “2007 FT3”, em outubro deste ano, começou no famigerado tabloide britânico “Daily Express”, no dia 7 de março de 2019. Particularmente, considero esse tabloide um dos piores do mundo! Ele só “perde” para também britânico “Daily Star”. Nenhum site de notícia ou canal do YouTube que se preze deveria utilizá-lo como fonte.

Trecho do texto publicado pelo site do tabloide britânico “Daily Express”.

No entanto, foi exatamente isso que o site “Olhar Digital” fez. O texto em português é basicamente uma tradução parcial do texto original acrescido de erros gramaticais. De qualquer forma, aconteceu uma situação pior na Rússia. Isso porque o canal “REN-TV” divulgou que a colisão desse asteroide com a Terra seria inevitável! Foi uma baita lambança! Eles ainda tentaram justificar que as informações seriam provenientes da NASA, mas não colou. Acabaram deletando a publicação.

Algumas Informações Estão Corretas

Algumas informações, no entanto, procedem. O asteroide foi realmente descoberto em 2007 (vide o ano que consta em sua denominação), e foram realizadas 14 observações (nos dias 20 e 21 de março daquele ano). Atualmente ele é classificado como NEO e PHA. O que isso significa? Bem, NEO é o acrônimo para a expressão inglesa “Near-Earth Object” (“Objetos Próximos à Terra“, em português). Já PHA é a sigla para a expressão “Potentially hazardous object” (“Objeto Potencialmente Perigoso”).

O tamanho estimado do “2007 FT3” é de 340 metros! Sua massa é de 55 bilhões de quilos e, se fosse atingir nosso planeta, assim o faria a aproximadamente 72.000 km/h e o impacto liberaria uma energia estimada em 2.700 megatons. Para completar, esse asteroide demora 428 dias para dar uma volta completa ao redor do Sol.

Onde Está o Problema?

O tabloide britânico “Daily Express” extraiu a informação relacionada a outubro deste ano do “Sentry”. O “Sentry” é um programa de computador desenvolvido para analisar automaticamente os catálogos astronômicos em busca de asteroides, que no futuro possam colidir com a Terra. O programa analisa os catálogos para potenciais colisões nos próximos 100 anos.

Ao acessarmos as informações do “2007 FT3”, no Sentry, realmente nos deparamos com a informação que o asteroide passaria “próximo” da Terra em outubro deste ano. A probabilidade de impacto era de 1 em 11.000.000! Isso resultava em 99.9999908% de chances de não colidir com a Terra! Tudo indicava que não haveria colisão alguma. Portanto, todo sensacionalismo já seria dispensável somente com essas informações.

O asteroide tinha 99.9999908% de chances de não colidir com a Terra! Tudo indicava que não haveria colisão alguma.

Entretanto, as informações disponibilizadas na página do Sentry foram computadas em 11 de abril de 2017! Ao acessarmos o Banco de Dados de Pequenos Objetos do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA, encontramos informações bem mais atualizadas, de 11 de dezembro de 2018!

Segundo as informações contidas nesse banco de dados, o “2007 FT3” passará “próximo” da Terra somente em 11 de outubro de 2068. Após essa data, somente em 2187! Muito provavelmente, a órbita do “2007 FT3” foi corrigida em algum momento entre abril de 2017 e dezembro de 2018.

Informações referentes ao asteroide “2007 FT3”.

O “2007 FT3” passará “próximo” da Terra somente em 11 de outubro de 2068. Após essa data, somente em 2187!

Muito provavelmente, a órbita foi corrigida em algum momento entre abril de 2017 e dezembro de 2018.

Esse erro na hora de consultar as informações demonstrou ser determinante para a disseminação de informações falsas ou incorretas.

A Maneira Mais Fácil de Determinar se um Objeto é uma Ameaça a Terra!

A maneira mais fácil de determinar se existe uma real ameaça ao nosso planeta é observar o status dos objetos de acordo com a escala de Turim ou Palermo.

A escala de Turim baseia-se nas dimensões do corpo celeste e na probabilidade de colisão atribuindo-lhe um nível, que vai do nível 0 (nenhum risco iminente) ao nível 10 (colisão capaz de alterar todo o clima do planeta causando uma catástrofe global). Sabe qual era o nível do “2007 FT3” no Sentry? Zero. Sim, zero.

A Escala de Turim.

Já a escala de Palermo é mais rigorosa. Ela leva em consideração as probabilidades numéricas de colisões e energia de impacto, levando em consideração o ângulo de entrada do asteroide e a velocidade de aproximação da Terra. Contudo, se o valor estiver abaixo de -2, então não há com o que se preocupar. E sabem qual era o valor do “2007 FT3″ nessa escala? Cerca de -2,82.

Valores do asteoide “2007 FT3” de acordo com as escalas de Turim e de Palermo.

E Onde o “2007 FT3” Estará em 3 de Outubro de 2019?

Confira abaixo a posição e a distância estimada que o “2007 FT3” estará em relação a Terra no dia 3 de outubro de 2019:

Futura localização do “2007 FT3” em 3 de outubro de 2019.

Visualmente vocês podem notar, que ele não estará nem um pouco próximo da Terra. Estima-se que ele estará a uma distância de 0,93 AU (1 AU = 150 milhões de km), ou seja, quase 140 milhões de quilômetros de distância do nosso planeta. Esse valor também foi obtido, quando geramos as efemérides do “2007 FT3” através do sistema HORIZONS.

Enfim, acreditamos que isso encerre as discussões sobre quão distante ele estará nesse dia. Nem um pouco perto.

O “2007 FT3” Acabaria com a Civilização Humana? Seríamos Extintos?

Não! Embora um asteroide de 340 metros possa, na pior das hipóteses, representar uma ameaça a civilização humana, não seríamos extintos como espécie!

Confira o que um texto chamado “The Probability of Collisions with Earth“, publicado há mais de duas décadas, no site do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA, menciona:

Um grupo de trabalho presidido pelo Dr. David Morrison, do Centro de Pesquisa Ames da NASA, estima que existam cerca de 2.100 asteroides com mais de 1 km e, talvez, 320.000 maiores que 100 metros, o tamanho que causou o evento de Tunguska e a cratera do meteoro do Arizona. O impacto de um desses meteoros maiores no lugar errado seria uma catástrofe, mas isso não ameaçaria a civilização. No entanto, o grupo de trabalho concluiu que o impacto de um asteroide maior que 1 ou 2 quilômetros poderia degradar o clima global, levando a um prejuízo generalizado na lavoura e na perda de vidas. Estima-se que tais catástrofes ambientais globais, que colocam toda a população da Terra em risco, ocorram, em média, várias vezes em milhões de anos

A Apresentação do Cientista Charles Bardeen

O cientista Charles Bardeen, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica em Boulder.

Durante um Encontro Anual da União Geofísica Americana (AGU), em dezembro de 2015, nos Estados Unidos, um cientista chamado Charles Bardeen, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica em Boulder, no estado norte-americano do Colorado, apresentou uma interessante simulação. Ele e seus colegas simularam o que aconteceria se um asteroide de 1 km (1.000 metros) caísse numa massa de terra, ou seja, no solo de algum país, por exemplo.

Tal impacto geraria uma cratera de 15 km de largura! Isso lançaria enormes quantidades de poeira na atmosfera e desencadearia incêndios em larga escala. Tais incêndios lançariam uma grande quantidade de fuligem no ar, exceto se caísse numa área desértica e com pouca vegetação. No pior cenário, a poeira permaneceria por cerca de seis anos na atmosfera. Já a fuligem, por cerca de dez anos.

Essas partículas aqueceriam ao sol, esquentando a estratosfera de forma significativa e acelerariam as reações químicas que destroem o ozônio, que protege a Terra da radiação ultravioleta (UV). De fato, o ozônio atmosférico seria temporariamente reduzido em 55%! Isso faria com que o índice de UV na superfície chegasse a “20” nos trópicos por vários anos. (um índice de UV de 11 ou superior indica “risco extremo de danos causados ​​pela exposição desprotegida ao sol”).

A fuligem atmosférica e a poeira também reduziriam a quantidade de luz solar que atinge a superfície da Terra em até 70% durante o primeiro ou segundo ano. Como resultado, a temperatura média da superfície global esfriaria em 14º C. Seria uma espécie de mini-era do gelo!

Lavouras Prejudicadas no Hemisfério Norte, mas Não Tanto no Hemisfério Sul

A maior parte dessa queda de temperatura ocorreria em terra, mas os efeitos também seriam sentidos, de forma prolongada, nos oceanos. O resfriamento global também levaria a uma queda na precipitação de cerca de 50% em todo o mundo.

Sem dúvida alguma, essa não é uma boa notícia para os agricultores e as pessoas que dependem deles, ou seja, todos no mundo. As colheitas na América do Norte, Europa e norte da Ásia seriam especialmente atingidas. Entretanto, as terras agrícolas na Índia, América do Sul e África não seriam tão afetadas.

As colheitas na América do Norte, Europa e norte da Ásia seriam especialmente atingidas. Entretanto, as terras agrícolas na Índia, América do Sul e África não seriam tão afetadas.

O impacto de asteroide de 1km, cerca de três vezes o tamanho do “2007 FT3” poderia causar “um impacto global muito severo” por vários anos, mas ainda não significaria o fim da civilização humana! Portanto, consequentemente, o “2007 FT3” não acabaria com os seres humanos.

E se Caísse no Mar?

Bardeen e sua equipe disseram apenas o que poderia acontecer se o asteroide de 1 km impactasse contra uma massa de terra. Contudo, e se ele caísse no mar? Uma vez que cerca de 70% do nosso planeta é coberto por oceanos, a probabilidade de cair no mar seria mais alta.

Em 2010, um estudo realizado pela cientista Elisabetta Pierazzo (falecida em 2011) e seus colegas, determinaram que os efeitos sobre a camada de ozônio da Terra seriam dramáticos. O impacto lançaria vapor de água salgada suficiente para destruir enormes quantidades de ozônio. Isso faria com que o índice UV subisse para “56”. Esses altos níveis de radiação nunca foram experimentados na história da humanidade! Assim sendo, provavelmente, isso forçaria as pessoas a permanecer dentro de suas casas durante o dia. No entanto, não seria o fim da raça humana.

Elisabetta Pierazzo e seus colegas determinaram que os efeitos sobre a camada de ozônio da Terra seriam dramáticos. Ainda assim, não seria o fim da raça humana.

Segundo Bardeen, a queda de um asteroide de 1km no mar não teria as mesmas consequências climáticas que um impacto em solo.

Conclusão

O asteroide “2007 FT3” não irá passar próximo da Terra em outubro de 2019. Isso está previsto apenas para 11 de outubro de 2068, quando o asteroide deve passar a uma distância de 24 milhões de quilômetros da Terra (0.16 AU). Para vocês terem uma ideia, a Lua está a uma distância média de 384 mil quilômetros do nosso planeta, ou seja, o “2007 FT3” deve passar cerca de 62,5 vezes a distância da Lua em relação a Terra. E isso é uma distância significativa.

Para completar, não há nenhum comunicado ou nota da NASA sobre uma eventual ameaça ou possibilidade de colisão em outubro deste ano. Tudo que temos é uma péssima divulgação científica por parte de inúmeros sites e diversos canais no YouTube.

Num hipotético cenário de colisão, o “2007 FT3” também não acabaria com a civilização humana. Portanto, se você leu ou ouviu isso em algum lugar, saiba que mentiram para você.

 

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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