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quinta-feira, março 28, 2024

Será verdadeira a história de uma boneca que envelheceu como um ser humano?

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Será verdade que uma boneca teria envelhecido de “forma sobrenatural” após ter sido descoberta no sótão da casa de uma família norte-americana? Bem, é isso que o canal do YouTube “Fatos Desconhecidos” se propôs a divulgar num vídeo publicado no dia 3 de dezembro de 2018 (http://archive.is/LSE9L).

Curiosamente, essa história vem circulando desde o ano de 2009, e já foi motivo de diversos artigos em sites destinados a assuntos de cunho sobrenatural, assim como canais no YouTube, que tentam repassar essa mesma história, porém com algumas variações. Contudo, será que essa história é verdadeira? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Entendendo a Precária “História” do Caso

Segundo o canal do YouTube “Fatos Desconhecidos”, toda essa história aconteceu nos Estados Unidos e atingiu uma família mais do normal, “daquelas perfeitas para comerciais bonitinhos de margarina“. Em um certo Natal, os pais decidiram presentear a filha com uma boneca normal, uma daquelas maiores que se assemelham a um bebê. A menina foi feliz por muito tempo, brincou a exaustão com a boneca, e por um bom tempo eram bem mais do que inseparáveis.

Porém, como tudo na vida é cíclico, em certo momento ela deixou o brinquedo de lado. Para não se desfazer de uma relação tão gratificante, entre a filha e a boneca, os pais decidiram guardar o brinquedo no sótão.

Segundo o canal do YouTube “Fatos Desconhecidos”, toda essa história aconteceu nos Estados Unidos e atingiu uma família mais do normal, “daquelas perfeitas para comerciais bonitinhos de margarina”.

Durante o tempo que a boneca permaneceu guardada, a família se desenvolveu, a menina cresceu, e acabou saindo da casa dos pais para se especializar em alguma área de estudo. Então, sem a menina em casa, os pais resolveram fazer uma faxina no imóvel. Quando chegaram no sótão, eles “encontraram o que não queriam encontrar”. Antes de falar o que teriam encontrado, era importante mencionar o período pelo qual a boneca ficou guardada: 11 anos.

Eles esperavam encontrar uma boneca deteriorada pelas traças e com um plástico velho, porém, ao se aproximarem dela, perceberam que a boneca estava em certo estado de mumificação. Não do jeito que o brinquedo envelheceria, mas como um ser humano. Ao longo do tempo a boneca de transformou e, ao que tudo indica, deixou de ser tão inanimada, criando uma espécie de vida enquanto envelhecia. Suas feições eram tão parecidas com a de ser humano normal, que os pais só reconheceram que era a boneca, devido as roupinhas características. Nenhuma outra parte lembrava o brinquedo, que havia sido comprado há mais de uma década.

Ao longo do tempo a boneca de transformou e, ao que tudo indica, deixou de ser tão inanimada, criando uma espécie de vida enquanto envelhecia. Suas feições eram tão parecidas com a de ser humano normal, que os pais só reconheceram que era a boneca, devido as roupinhas características. Nenhuma outra parte lembrava o brinquedo, que havia sido comprado há mais de uma década.

De qualquer forma, segundo aqueles que encontraram a boneca, uma coisa assustava mais do que as outras: os olhos da boneca estavam parados, mas refletiam uma espécie de presença. Além disso, seus braços eram bem formados e longos, e eles também estavam mumificados, ou seja, a boneca cada vez mais parecia ser humana. O vídeo ainda acrescentou que a múmia, se é que eles podiam chamar assim, apresentava rugas, que eram características bem humanas, e tendem a aparecer quando as pessoas envelhecem. Então, assim como as pessoas, a boneca foi se desenvolvendo. E, por incrível que pareça, a boneca se desenvolveu ao ponto de morrer, assim como qualquer pessoa.

Enfim, a melhor parte do vídeo talvez seja o final, onde é mencionado que pessoas teriam criado estaparfúdias teorias conspiratórias. É alegado que os céticos sempre aparecem primeiro para evitar que os conspiradores tomem conta da história. Nesse caso, os céticos atribuíram esse caso ao derretimento do plástico grosso da boneca, juntamente com materiais orgânicos formadores do brinquedo. Já os teóricos da conspiração alegaram, que uma entidade teria se apoderado da boneca.

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É alegado que os céticos sempre aparecem primeiro para evitar que os conspiradores tomem conta da história. Nesse caso, os céticos atribuíram esse caso ao derretimento do plástico grosso da boneca, juntamente com materiais orgânicos formadores do brinquedo. Já os teóricos da conspiração alegaram, que uma entidade teria se apoderado da boneca.

Bem, se vocês estão realmente treinados em procurar pela realidade por trás de uma história, desconfiariam rapidamente de diversos elementos nela contidos.

Em primeiro lugar, qual era essa família? Qual o nome dos pais? Qual o nome da menina? Em qual cidade ou estado norte-americano eles moravam? Onde e quando compraram a boneca? Quem era o fabricante? Existiu algum laudo dizendo, que se tratava de um corpo mumificado? A boneca era realmente de plástico? Existe uma foto original de como a boneca era? Enfim, em nenhum momento são fornecidos dados verificáveis sobre essa história. Algo tão fantástico assim com certeza iria ser amplamente divulgado por uma mídia ávida em comprar direitos autorais de histórias fantasiosas e palatáveis ao redor do mundo, assim como a mídia britânica.

De fato, em 27 de setembro de 2009, o site do tabloide “Daily Express”, que particularmente considero um dos piores tabloides do Reino Unido (ao lado do “Daily Star”), divulgou o que iremos considerar nesse momento como a “primeira versão” dessa história, porém muito mais simples do que a narrada pelo “Fatos Desconhecidos” (daqui a pouco iremos dizer de onde foi tirada a versão apresentada no vídeo). Em um artigo intitulado “The doll that aged” (“A boneca que envelheceu”, em português) foi mencionado apenas, que os pais compraram a boneca como um presente, provavelmente para a filha, e o brinquedo posteriormente acabou indo parar no sótão da casa. Cerca de 11 anos depois, os pais se depararam com a boneca, que estava murcha e envelhecida.

De fato, em 27 de setembro de 2009, o site do tabloide “Daily Express”, que particularmente considero um dos piores tabloides do Reino Unido (ao lado do “Daily Star”), divulgou a versão original dessa história, porém muito mais simples do que a narrada pelo “Fatos Desconhecidos”, que soa ser um “aprimoramento” da versão original.

A história foi contada por um desconhecido “especialista em paranormalidade” britânico chamado Jim Eaton, em um livro ainda mais desconhecido chamado “Ghosts Caught On Film 2“. Jim se limitou a dizer, que a família comprou a boneca em boas condições, e decidiram guardar no sótão. Quando se depararam com ela, 11 anos depois, ficaram chocados com sua aparência, enrugada como um homem velho. A família horrizada teria dado a boneca a alguém, mas logo trocou de mãos por uma grande quantia em dinheiro. Além disso, a única foto divulgada sobre o caso teria sido tirada antes da boneca ter sido doada. Segundo Jim, apenas poderíamos imaginar o estado atual da boneca (guardem bem isso em mente).

Ao longo do tempo, diversos sites de notícias, brasileiros e internacionais, além de inúmeros blogs de terror divulgaram esse caso, porém sem nenhum tipo de aprofundamento, e com algumas variações. Como exemplo, podemos citar o blog “Universo Paranormal“, “Portal do Holanda“, “Freak Lore“, e a versão apresentada pelo site “Paranormal Guide“, em março de 2013, que aparentemente foi a fonte de inspiração para o recente roteiro narrado no vídeo do “Fatos Desconhecidos”. A semelhança entre o texto em inglês e a narração em português é impressionante.

Verdadeiro ou Falso? A Realidade Por Trás de Toda Essa “História”

A história que uma boneca envelheceu em um sótão é totalmente falsa! Estamos diante apenas de uma boneca de pano/tecido, ao que tudo indica com olhos de vidro, e que pode ter sofrido modificações por mãos humanas ao longo do tempo. Porém, para que vocês possam entender melhor essa história, e de maneira transparente, é necessário que expliquemos a vocês como chegamos a essa conclusão, não é mesmo?

Vamos começar pelo Jim Eaton, visto que tudo indica que foi o responsável por começar toda essa história. Isso porque não há nenhuma referência verificável na internet, quando pesquisamos por “doll that aged” ou “doll that grew old” (nome que Jim deu a essa história em seu livro) antes de 25 de setembro de 2009, data em que foi publicado um curto vídeo sobre o caso no canal do YouTube do tabloide britânico “The Sunday Express” – uma publicação considerada “irmã” do “Daily Express” (o vídeo foi uma espécie de prévia sobre o que seria publicado dois dias depois, na edição impressa e na internet).

Curiosamente, na descrição do vídeo consta a seguinte frase: “A incrível história verdadeira de fantasma, de uma boneca infantil, comprada em estado imaculado, que misteriosamente se decompôs, se assemelhando a um corpo magro de um homem velho“.

Curiosamente, na descrição do vídeo consta a seguinte frase: “A incrível história verdadeira de fantasma, de uma boneca infantil, comprada em estado imaculado, que misteriosamente se decompôs, se assemelhando a um corpo magro de um homem velho”.

Jim Eaton, que foi enaltecido pelo “Daily Express” como “especialista em paranormalidade”, na verdade é um cidadão bem avulso nesse meio. Ele é conhecido apenas por ter fundado um site chamado “Ghost Study“, que por sua vez tem a aparência de um site criado nos anos 2000. No site, ele alega ter a maior galeria de fotos autênticas de fantasmas, evidências espirituais e outras anomalias, porém basta olhar rapidamente para muitas das fotos para perceber, que se tratam de artefatos gerados pelas próprias câmeras, sendo que outras são sabidamente falsas ou tão somente pareidolia. Ele não fornece aos usuários nada realmente autêntico, ou seja, nada que seja uma evidêncial real de fantasmas.

O conteúdo de seu livro, atualmente sendo vendido por módicos US$ 4,44 (cerca de R$ 17,00 pela cotação atual), no site da Amazon, segue o mesmo padrão do site. É possível notar isso através de alguns comentários sobre o livro, assim como um comentário escrito por um usuário chamado “TheUglyBugBall“, onde foram feitas algumas alegações:

  • O autor, Jim Eaton, geralmente não menciona os locais, onde as imagens foram tiradas e, às vezes, as datas estão faltando, porém não é mencionado que a data é desconhecida;
  • Em muitas das fotografias, o autor não orienta o olhar do leitor para ajudar a explicar a interpretação da imagem;
  • Às vezes, o livro inclui uma segunda imagem ao lado da original para tornar a “aparição” mais clara. Na maioria das vezes, estas são ampliações simples a partir da original, mas algumas são manipulações, assim como os contornos em preto e branco;
  • Existem inúmeros erros gramaticais no texto, indicando uma edição malfeita;
  • O escritor simplesmente não é habilidoso o suficiente para reafirmar a mesma coisa em todas as páginas, mas ele tenta. É possível ler inúmeras vezes “isso pode ser isso ou aquilo, mas talvez seja um fantasma!“;
  • Eaton é muito mais alguém que quer acreditar em algo do que uma pessoa objetiva e credível, quanto à autenticidade das imagens que apresenta.

O conteúdo de seu livro, atualmente sendo vendido por módicos US$ 4,44 (cerca de R$ 17,00), no site da Amazon, segue o mesmo padrão do site.

Portanto, a versão apresentada por Jim Eaton é totalmente questionável. Apesar de alegar, que passou 10 anos estudando as tais imagens, ele soa ser tão somente um amador, que coletou fotos de forma aleatória na internet, e não fez nenhum tipo de pesquisa ou análise metodológica das mesmas. Apenas publicou as imagens e emitiu uma opinião, tal como qualquer pessoa comum faria. Sinceramente, é difícil até mesmo acreditar, que ele realmente tenha estudado tais fotos.

De qualquer forma, o que vem a seguir derruba completamente a versão de Jim Eaton.

Um dos Supostos Antigos Proprietários da Boneca e uma Versão Completamente Diferente Sobre Sua Origem

Em novembro de 2008, ou seja, quase um ano antes da publicação do “Daily Express“, e alguns meses antes do livro de Jim Eaton ser publicado (em agosto de 2009), um site norte-americano chamado “Angels & Ghosts” publicou a história de um homem chamado Robert Hudson (apelidado de Robbo Hudson), sobre uma boneca supostamente assombrada. Essa tal boneca teria sido fabricada em 1740, sido usada em inúmeros exorcismos, aparecido na TV no Reino Unido, pertencido a uma dime store (algo equivalente a uma loja de R$ 1,99, tal como conhecíamos), um museu e três exposições. No entanto, a história boneca permanecia praticamente desconhecida nos Estados Unidos.

O detalhe mais importante? Se tratava da mesma boneca que Jim Eaton se referiu, porém o histórico dela era completamente diferente!

O detalhe mais importante? Se tratava da mesma boneca que Jim Eaton se referiu, porém o histórico dela era completamente diferente.

Eis a história, contada em primera pessoa, por Robert Hudson:

Quarenta anos atrás, meu sogro encontrou uma boneca em uma dime store (“loja de dez centavos”, de produtos extremamente baratos, de quinquilharias, e equivalente ao que conhecíamos como lojas de R$ 1,99) nos Estados Unidos. Estava sendo exibida, rodeada por fotos antigas de si mesma, tiradas anos antes. No chão, em frente ao expositor, havia uma linha vermelha. O expositor tinha uma placa dizendo o seguinte:

‘Em 1888, esta boneca foi dada a Cedric Argyle, de Londres. A boneca já havia sido usada em nada menos do que 68 exorcismos. O reverendo Thomas Blythe e seu amigo Argayus Brown usaram a boneca em exorcismos, quando espíritos maliciosos assombravam as mansões e os alojamentos dos funcionários da nobreza rural por toda a Inglaterra. Thomas costumava comentar sobre a boneca, dizendo que ela olhava para ele em várias ocasiões, piscava ou sorria. Depois de um tempo, a boneca foi finalmente fotografada por um amigo. Quando foi fotografada novamente, cerca de 20 minutos depois, o fotógrafo disse que percebeu que a boneca parecia sorrir, e isso o assustou. Ninguém deu muita atenção até que as placas foram reveladas, e as fotografias revelaram que o rosto realmente havia mudado! Todas as pessoas que viram as fotos ficaram surpresas com a diferença, e atribuíram isso as almas perdidas, infelizmente, presas dentro da boneca. Durante o exorcismo, a boneca costumava ser usada para distrair o espírito ao ser oferecida como um brinquedo. O Sr. Brown supôs que, embora o espírito que estivesse assombrando a casa fosse banido, de alguma forma ele entrava na boneca, aprisionando a si mesmo.

Ao longo dos anos seguintes, a boneca foi fotografada por milhares de pessoas, e agora reside aqui depois de ser vendida para a dime store pelo neto do Sr. Brown. Desde que estamos aqui, os clientes ficam na linha vermelha e tiram duas fotos da boneca, uma após a outra, e você é aconselhado a inspecioná-las uma vez que fiquem prontas. Quase todas as vezes, as duas fotografias têm diferentes expressões faciais. Às vezes parecendo um garoto… às vezes uma garota! Às vezes sorrindo… às vezes triste.

Por favor, fique atrás da linha vermelha e tente!’

Em novembro de 2008, ou seja, quase um ano antes da publicação do “Daily Express”, e alguns meses antes do livro de Jim Eaton ser publicado (em agosto de 2009), um site norte-americano chamado “Angels & Ghosts” publicou a história de um homem chamado Robert Hudson (apelidado de Robbo Hudson), sobre uma boneca supostamente assombrada.

A boneca foi passada para mim, e acabou ficando exposta por 7 anos no Museum of Curios, na Cornualha (Reino Unido), até 2007. Mais uma vez, foi fotografada milhares de vezes por câmeras digitais com os mesmos resultados. Era um dos objetos favoritos entre os clientes, quase alcançando as cabeças encolhidas em termos de popularidade.

A boneca é incrível. Honestamente, posso dizer que nunca encontrei nada como isso. Não sou supersticioso ou alguém que acredite em fantasmas ou espíritos, por assim dizer, mas tenho testemunhado as mudanças, quando a boneca é fotografada ou filmada. Minha conclusão foi que as mudanças sutis de luz, o movimento do ângulo da câmera, entre outras coisas, fizeram o rosto parecer diferente – talvez.

A boneca é feita de pano e aquilo que parecem ser olhos de vidro reais. Nunca vi olhos assim em uma boneca antes. Verdadeiramente realistas e, hesito em dizer, bastante assustador! Tem cerca de 22 cm de comprimento e delicadeza. Isto definitivamente não é para brincar e deve ser exibido em um ambiente com temperatura controlada.

Em julho de 2010, Robert Hudson divulgou essa mesma informação, e compartilhou duas fotos dessa boneca no site “World Horror Stories (uma delas já tinha sido compartilhada anteriormente, porém em tamanho reduzido). Confiram as imagens abaixo:

A primeira foto compartilhada por Robert Hudson.

A segunda foto compartilhada por Robert Hudson.

Nesse momento, os mais entusiastas do mundo paranormal/sobrenatural podem estar eufóricos, acreditando que estamos diante de uma boneca utilizada como uma “espécie de distração” em rituais de exorcismo, em séculos passados. Porém, não há motivos para comemoração, porque toda essa história está repleta de red flags (expressão em inglês comumente usada para indicar problemas em potencial). Eis uma pequena lista dos problemas:

  • Ao pesquisar pelo nome “Cedric Argyle” (ou “Cédric Argyle”), em diversos mecanismos de busca, não encontrei nenhuma referência a qualquer antigo colecionador, comerciante ou aventureiro, que pudesse nos dar qualquer pista sobre a boneca. A referência mais próxima da Inglaterra, que encontrei sobre “Argyle” é que esta é uma ortografia arcaica de “Argyll”, um condado da Escócia;
  • Algo semelhante aconteceu ao pesquisar pelos nomes do Reverendo Thomas Blythe, e de seu amigo Argayus Brown. Encontrei um reverendo, que ficou bem conhecido em Londres, chamado “Thomas Allen Blyth“, que viveu entre os anos de 1844 e 1913, durante um bom período da Era Vitoriana, porém não há nenhum indício que ele tenha sido um exorcista. Já sobre um suposto amigo chamado “Argayus Brown”, a pesquisa se mostrou nula;
  • A realização de exorcismos no século XIX era bem incomum devido aos grandes avanços da medicina, ou seja, exorcismos, apesar de acontecerem, não eram bem vistos pela população e, menos ainda, se formos considerar a aristocracia inglesa. Vale lembrar nesse ponto, que era muito mais fácil, por exemplo, internar uma mulher em um manicômio naquela época, do que chamar um padre para exorcizá-la, ao contrário do que se viu, por exemplo, entre os séculos XVI e XVII, na Europa, considerada a época de ouro dos exorcismos;
  • Rituais de exorcismos não utilizam bonecas ou outros tipos de brinquedos como distração para os supostos demônios ou entidade maligna, ainda mais considerando a Igreja Anglicana;
  • Novamente, a história não diz em qual loja a boneca foi comprada, seu fabricante, nem mesmo a cidade, estado ou data exata;
  • Apesar da alegação de que foram tiradas milhares de fotos da boneca, Robert divulgou apenas duas fotos aleatórias até hoje, e não apresentou nenhuma foto antiga, que tenha sido tirada da tal boneca. Com a ampla divulgação da história, muitas outras fotos dessa boneca deveriam ter aparecido, mas não foi isso aconteceu, pelo contrário. Muita gente acredita nessa história até hoje, alegando que pesquisou sobre o assunto, mas que não encontrou maiores informações sobre o caso;
  • Não há nenhuma comprovação, exceto anedótica, que a boneca tenha sido fabricada em 1740, sendo possível que tenha sofrido modificações por mãos humanas ao longo do tempo, ou que seja até mesmo moderna. Seria necessária uma análise do tecido que a compõe, além da opinião de verdadeiros especialistas da área;
  • É possível notar que o tecido do rosto da boneca é relativamente solto, flexível e repleto de falhas, ondulações e marcas, ou seja, é muito fácil tirar duas fotos em que a boneca aparente estar diferente. No entanto, se tirarmos uma foto por segundo, de um mesmo ângulo (com a ajuda de um tripé), em um ambiente com iluminação controlada, ainda que por um longo período de tempo, veríamos nitidamente que não há nenhuma discrepância entre as fotos.

Além dessa pequena lista, é importante dizer quem é Robert Hudson. Ele foi o proprietário de uma loja chamada “Puffedz,” além de um museu adjacente chamado “The Museum of Curios Collection“, na cidade costeira de Newquay, Cornualha, na Inglaterra. Robert era simplesmente um comerciante de supostas antiguidades, principalmente crânios e ossos supostamente verdadeiros de seres humanos e de outros animais, além de diversos outros itens, assim como fetos in vitro, que ele alegava ser igualmente verdadeiros. A loja possuía um site chamado “Puffedz.com“, que foi desativado em 2007, mesmo ano que ele fechou sua loja, quando se desfez de parte de sua coleção.

O maior problema de Robert era seu modo um tanto quanto “questionável” de fazer negócio. Em 19 de março de 2004, a BBC divulgou que Robert se declarou culpado de contrabandear crânios para a Grã-Bretanha, e adquirir um esqueleto de golfinho para fins comerciais (cerca de três quilos de vermes teriam sido necessários para retirar a carne dos ossos do golfinho). Na época, com 38 anos, ele foi condenado a 120 horas de serviço comunitário, além de pagar uma multa de £1.500.

Em 19 de março de 2004, a BBC divulgou que Robert se declarou culpado de contrabandear crânios para a Grã-Bretanha, e adquirir um esqueleto de golfinho para fins comerciais (cerca de três quilos de vermes teriam sido necessários para retirar a carne dos ossos do golfinho). Na época, com 38 anos, ele foi condenado a 120 horas de serviço comunitário, além de pagar uma multa de £1.500.

Robert estava voltando de Banjul, capital da Gâmbia, quando oficiais da alfândega do Aeroporto de Gatwick também encontraram três crânios pertencentes a babuínos, quatro de outros macacos e um de uma tartaruga depois de abrir sua mala. Em sua loja e museu, investigadores também encontraram 20 crânios humanos, peles de tigre, assim como peles de outros grandes felinos, além de uma presa e cauda de elefante. Uma garrafa de vinho de cobra, supostamente afrodisíaco, também foi encontrada.

Robert Hudson disse aos investigadores, que havia colecionado crânios e curiosidades de feiras de antiguidades como hobby, e que poderia vender um crânio humano por até £100 (ele tentava vender por muito mais que isso). Ele também disse, que tinha obtido os crânios de macaco, após viajar em um safári na Gâmbia, e trocar canetas e lanternas de bolso pelos tais itens com membros de tribos locais.

Robert estava voltando de Banjul, capital da Gâmbia, quando oficiais da alfândega do Aeroporto de Gatwick também encontraram três crânios pertencentes a babuínos, quatro de outros macacos e um de uma tartaruga depois de abrir sua mala.

Agora, se você pensa que Robert, apesar de seus métodos, comercializava itens totalmente verdadeiros, você irá se decepcionar. Ele voltou a ganhar as manchetes nacionais em agosto daquele mesmo ano, quando dois repórteres do “Daily Telegraph” teriam sido “desmascarados” por ele. Os repórteres estavam investigando a venda de bebês mortos para tais museus e antiquários, porém Robert disse que não possuía ou comercializava qualquer parte do corpo humano, que fosse verdadeira, embora tivesse um suposto pênis mumificado de 30 cm em sua coleção.

Aliás, ele foi citado como um “comerciante de bebês mortos”, na matéria dos dois repórteres, porém se defendeu alegando, que todas as suas exibições humanas eram da época vitoriana, e de plástico, com a exceção da extremidade mumificada, e que tinham sido compradas de um taxidermista em Londres. Enfim, aparentemente, Robert alegava aquilo que lhe convia, o que não significava ser necessariamente verdade.

Ele voltou a ganhar as manchetes nacionais em agosto daquele mesmo ano, quando dois repórteres do “Daily Telegraph” teriam sido “desmascarados” por ele. Os repórteres estavam investigando a venda de bebês mortos para tais museus e antiquários, porém Robert disse que não possuía ou comercializava qualquer parte do corpo humano, que fosse verdadeira, embora tivesse um suposto pênis mumificado de 30 cm em sua coleção.

Ao acessar o site da “Wayback Machine”, podemos ver como era o site “Puffedz.com” entre os anos de 2001 e 2017. Na versão salva de 6 de abril de 2001, podemos ver que o site anunciava a venda de réplicas de cabeças encolhidas feitas com pele de cabra/bode. Juntamente com a venda de um suposto crânio de uma múmia egípicia de £10.000, Robert vendia sementes de cannabis, além de acessórios e livros. Porém, a posse ou venda de maconha é ilegal na Inglaterra (até hoje o uso recreativo é proibido). Além disso, pessoas que são flagradas usando maconha para utilização recreativa podem pegar penas, que vão de multa de valor ilimitado até cinco anos de prisão, que podem chegar até a 14 anos para quem revende a droga.

Na versão salva em 15 de junho de 2006, é possível ver que pouquíssima coisa havia sido mudada no site, que ainda tinha uma aparência bem simplória para alguém que alegava ter itens tão raros assim em seu poder, e continuava comercializando sementes de cannabis como souvernirs.

Confiram um dos raros vídeos que encontrei, onde Robert Hudson mostra uma parte de sua coleção (infelizmente, nada da boneca):

Enfim, de qualquer forma nada indica que a boneca tenha sido usada em rituais de exorcismo na Era Vitoriana.

A Boneca Ainda Existe! Um Pulo até um Parque Belga Chamado “Pairi Daiza”

Por mais incrível que isso possa parecer, essa boneca ainda existe! Ela se encontra em Pairi Daiza, um zoológico e jardim botânico de propriedade privada localizado em Brugelette, na província de Hainaut, na Bélgica. O parque temático de animais com uma área 65 hectares está localizado no local da antiga abadia cisterciense de Cambron, e abriga mais de 4.000 animais.

O parque temático de animais com uma área 65 hectares está localizado no local da antiga abadia cisterciense de Cambron, e abriga mais de 4.000 animais.

É um parque muito exuberante, com diversos jardins temáticos e algumas outras atrações. Entre essas atrações está o “The mysterious cabinet of the explorer” (“O misterioso gabinete do explorador”, em português. É justamente nessa atração, que se encontra a boneca desta postagem, que eles chamam em francês de “la poupée hantée“, no qual eles alegam ser uma boneca amaldiçoada da Era Vitoriana, “sendo impossível tirar duas vezes a mesma foto da boneca”.

Já no texto, que descreve a atração no site, é possível ler que: “Atrás do vidro há muitas exposições autênticas do século XIX, do Museu Marítimo de Londres. O gabinete inclui uma coleção exclusiva, que contém itens horrivelmente reais, e também de origem engenhosamente falsa“. Porém, não é mencionado especificamente o que é real ou não, visto que é uma atração voltada ao entretenimento dos visitantes do parque. Apenas de olhar rapidamente para os itens é possível notar que alguns são sabidamente falsos, tais como as sereias de Fiji, o esqueleto de duas cabeças, o crânio alienígena etc…

Em relação a boneca, é possível notar, em um primeiro momento, que ela não seria mantida em uma ambiente com uma luz especial ou de temperatura controlada, assim como os demais objetos que ficam no mesmo expositor que ela, ou seja, se fossem realmente objetos com valor histórico verdadeiro, cuja história fosse factível e comprovada, o tratamento dados aos objetos, que ali estão, seria totalmente diferente.

Em relação a boneca, é possível notar, em um primeiro momento, que ela não seria mantida em uma ambiente com uma luz especial ou de temperatura controlada, assim como os demais objetos que ficam no mesmo expositor que ela.

Se fossem realmente objetos com valor histórico verdadeiro, cuja história fosse factível e comprovada, o tratamento dados aos objetos, que ali estão, seria totalmente diferente.

Eles sabem muito bem, que não há nada verdadeiramente mumificado, e que não requer maiores cuidados especiais (estamos falando de um parque com diversas certificações de excelência e premiações). Além disso, as pessoas podem livremente tirar fotos dos objetos, exceto selfies.

A placa de identificação da boneca, no interior do expositor nos fornece uma outra pista, visto que podemos ler o nome de “PHD Palmer” (Phillip Henry Douglas Palmer). PHD Palmer coletou artefatos “bizarros e maravilhosos” durante toda a sua vida, na Inglaterra. Ele teria trabalhado como um administrador do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, onde teria entrado em contato com muitos médicos da ativa, assim como aposentados. Esses encontros levaram-no a acumular uma enorme coleção de modelos e curiosidades anatômicas dos séculos XVIII e XIX. Ao longo dos anos, ele vendeu, trocou e negociou com colecionadores de todo o mundo e acumulou uma coleção particular, que ficava em seu pequeno escritório em casa, em Downderry, na Cornualha. Um comerciante prolífico em moedas, selos e praticamente qualquer coisa colecionável, ele era bem conhecido em muitos círculos de colecionadores.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, Robert Hudson estava viajando e acumulando sua própria coleção de coisas “estranhas e maravilhosas”, e conheceu a filha de PHD Palmer, a “Alison”. Conhecer seu pai abriu um novo mundo para Robert. Eles compartilharam muitas ideias e Robert aprendeu muito nos quinze anos seguintes até Palmer falecer no dia anterior ao Natal de 2002. O “Museum of Curios” foi aberto por Robert e Alison, em 1999, na cidade de Newquay, na Cornualha.

Ao longo dos anos, Palmer vendeu, trocou e negociou com colecionadores de todo o mundo e acumulou uma coleção particular que ficava em seu pequeno escritório em casa, em Downderry, na Cornualha. Um comerciante prolífico em moedas, selos e praticamente qualquer coisa colecionável, ele era bem conhecido em muitos círculos de colecionadores.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, Robert Hudson estava viajando e acumulando sua própria coleção de coisas estranhas e maravilhosas, e conheceu a filha de PHD Palmer, a “Alison”. Conhecer seu pai abriu um novo mundo para Robert.

O museu abrigou a maioria de suas coleções combinadas até que, em 2001, Palmer vendeu parte de sua coleção para Hudson, encantado ao ver tantas pessoas apreciando o museu. Sua coleção ficou com apenas 2.047 artefatos. Combinados com a coleção da Hudson, eles acumularam mais de 4.000 itens de curiosidades ao longo dos anos. Estes itens foram emprestados a outros museus ou galerias ou vendidos após o fechamento do museu. Um pequeno número de artefatos permaneceu da coleção original de PHD Palmer, e podem ser vistos no “The Viktor Wynd Museum of Curiosities, Fine Art & Natural History“, em Londres, na Inglaterra.

O museu abrigou a maioria de suas coleções combinadas até que, em 2001, Palmer vendeu parte de sua coleção para Hudson, encantado ao ver tantas pessoas apreciando o museu. Sua coleção ficou com apenas 2.047 artefatos. Combinados com a coleção da Hudson, eles acumularam mais de 4.000 itens de curiosidades ao longo dos anos. Estes itens foram emprestados a outros museus ou galerias ou vendidos após o fechamento do museu. Um pequeno número de artefatos permaneceu da coleção original de PHD Palmer, que podem ser vistos no “The Viktor Wynd Museum of Curiosities, Fine Art & Natural History”, em Londres, na Inglaterra.

Assim sendo, podemos dizer que Palmer era o sogro não citado por Robert Hudson, razão pela qual Robert acabou tendo a posse da boneca mencionada nesta postagem.

Assista também a um vídeo, publicado no YouTube, mostrando alguns dos objetos desse gabinete, entre eles a boneca, que tanto estamos falando (a partir de 3:19):

Entrando em Contato com Robert Hudson e o Parque Belga “Pairi Daizi”

Conversar com Robert Hudson, no dia 19 de fevereiro, foi uma verdadeira montanha-russa e vocês já vão entender o porquê. Inicialmente, fiz algumas perguntas tais como: Seu sogro contou para você em qual loja ele comprou a boneca? Você tem fotos realmente antigas dela (dos anos 70, 80 ou 90)? Além disso, a boneca é apenas de pano com olhos de vidro, certo? Você conhece alguma referência verificável em relação aos nomes Cedric Argyle, Thomas Blythe e Mr. Argayus Brown? Você acredita que a história de fundo é apenas uma lenda criada por uma loja de quinquilharias para promover uma boneca de aparência estranha? Obviamente, me identifiquei, e disse que estava escrevendo um artigo sobre a boneca, e prontamente Robert aceitou responder minhas perguntas.

Então, Robert disse que não acreditava em fantasmas ou qualquer coisa do gênero, e que esteve ao redor de coisas mortas durante toda sua vida. Seu sogro era um ávido colecionador de amostras médicas e crânios tribais. Também disse que nunca viu um único fantasma na vida, mas que a boneca era muito antiga. Ele chegou a mencionar, que pediu a um museu (sem mencionar qual foi esse museu) para datar a boneca (com base em suas roupas, estilo etc…), e que ela teria cerca de 250 anos. Já sobre a diferença de rosto nas fotos, ele atribuiu as sutis mudanças de luz ou ângulo da câmera, juntamente com a imaginação das pessoas depois de ler as informações sobre a boneca. Robert acreditava que tudo não passava de ilusão, e disse que se tratava de uma boneca de pano com olhos de vidro.

Já sobre a diferença de rosto nas fotos, ele atribuiu as sutis mudanças de luz ou ângulo da câmera, juntamente com a imaginação das pessoas depois de ler as informações sobre a boneca. Robert acreditava que tudo não passava de ilusão, e disse que se tratava de uma boneca de pano com olhos de vidro.

Robert disse que as pessoas não faziam ideia do quão pequena a boneca era (cerca de 20 cm), e que os olhos eram extremamente pequenos, e muito impressionantes considerando a idade da boneca. Ele disse que não tinha outras fotos da boneca e nenhuma outra informação antiga sobre a mesma. Ele disse até que acreditava em seu histórico, mas não acreditava que fosse assombrada. Se acreditasse, teria ganhado muito mais dinheiro com ela. Chegou a dizer também, que um programa de TV (sem mencionar qual foi esse programa) teria gravado a boneca, e alegado que os olhos teriam se mexido, porém Robert disse que o vento balançou uma cortina, e que a luz e a sombra geradas deram a impressão de que os olhos se moviam.

Então, perguntei novamente se ele acreditava na história de que a boneca teria sido usada em exorcismos. Robert respondeu que não sabia, que não estava presente na época, e que esse poderia ser um belo conto, mas que era real. Em seguida, disse novamente que não sabia, e que era cético em relação a isso, visto que ao longo do tempo ele mesmo descobriu que algumas artes tribais eram falsas, e completou: “As pessoas inventavam histórias anos atrás? Provavelmente, para vender ingressos e atrair as pessoas diante de coisas estranhas.

O rumo da conversa mudou completamente, quando perguntei ao Robert se poderia resumir tudo isso, dizendo que ele acreditava, que o histórico da boneca talvez fosse real, mas que a boneca não era assombrada. Por outro lado, alguém, no passado, poderia perfeitamente ter criado essa história sobre ela para ganhar dinheiro com ingressos. Foi nesse ponto que Robert começou a “atacar” o trabalho de verificação de fatos sobre a boneca. Robert disse, que se eu visse a boneca de perto ficaria admirado, e que deveria entrar em contato com o departamento de imprensa do parque “Pairi Daiza”. Questionou como eu poderia estar escrevendo um artigo investigativo sem nunca ter visto a boneca, e que tipo de jornalismo era esse, quando simplesmente perguntava a opinião de alguém. Alegou também, que qualquer pessoa poderia fazer perguntas e depois escrever uma porcaria de artigo sobre uma boneca.

Capa do livro de Robert Hudson, onde ele apresenta diversos itens em sua coleção. Na última página, no entanto, é mencionado que os eventos e os personagens descritos no livro são inteiramente ficcionais (http://www.blurb.co.uk/b/1888701-a-life-less-ordinary).

Ele disse que já foi questionado sobre a boneca por mais de 70 jornalistas ao redor do mundo (novamente questionável devido a ausência de artigos sobre ela), que nunca deram uma olhada de perto nela, e que as pessoas deveriam senti-la. Ele alegou que o parque recebia 2 milhões de visitantes por ano, e que milhares iam até lá somente devido a boneca. Isso é um tanto questionável, porque raramente se encontra alguma foto sobre a boneca ou qualquer comentário sobre ela na internet. De qualquer forma, ele disse que cometeu um erro ao vendê-la, e que era uma peça histórica fascinante. Questionei ele se fatos eram menos importantes que sensações pessoais. Robert disse, que fatos eram muito importantes, “mas pedir as pessoas que verificassem coisas, que podem ser verificadas na internet era um caminho fácil a ser seguido“.

Ao final da conversa, Robert quis fazer uma espécie de “censura prévia” ao pedir para revisar qualquer coisa antes que fosse publicado. Não concordei alegando censura, uma vez que ele havia respondido diversas perguntas, e eu já havia me apresentado e identificado, ou seja, ele estava ciente de quem eu era. Ainda assim, eu disse que poderia permitir isso por mera liberalidade. Ele acabou recuando, e disse, ironicamente, que eu poderia usar as respostas dele para “promover o meu jornalismo investigativo“.

Sinceramente, compreendo o lado do Robert. Ele já teve uma relação muito conturbada com a mídia britânica, provocada em parte por ele mesmo, e o YouTube não era tão popular assim em 2007. Imaginem a festa que um canal dedicado a assuntos supostamente paranormais faria com essa boneca. Seria uma espécie de “nova tábua Ouija”, rapidamente apareceria alguém para dizer que estava vendo espíritos malignos na boneca, e ela renderia rios de dinheiro por muitos e muitos meses.

Imaginem a festa que um canal dedicado a assuntos supostamente paranormais faria com essa boneca. Seria uma espécie de “nova tábua Ouija”, rapidamente apareceria alguém para dizer que estava vendo espíritos malignos na boneca, e ela renderia rios de dinheiro por muitos e muitos meses.

Evidentemente, também entrei em contato com o parque “Pairi Daiza”, um dia antes, 18 de fevereiro, quando enviei um email para a assessora de imprensa Claire Gilissen. Solicitei algumas fotos e informações sobre a boneca. Ela foi muito solícita, respondendo-me no dia seguinte, e ficou de ver como eles poderiam me ajudar sobre isso. No dia 20 de fevereiro, recebi um email de Steffen Patzwahl, diretor honorário e administrador de coleções etnográficas e aquáticas do parque dizendo que entrou em contato com o Robert Hudson, que por sua vez alegou que já tinha me passado todas as informações relevantes sobre a boneca.

Não satisfeito, fiz novos questionamentos ao Steffen Patzwahl, que não retornou meu contato. Isso me fez o questionar mais uma vez no dia 25 de fevereiro, perguntando se havia algum interesse em responder minhas perguntas, caso contrário não tinha o menor problema. Cerca de 10 minutos após enviar o email, Steffen me respondeu. Eis o que ele disse:

  • Steffen disse que a boneca, assim como demais objetos no interior do expositor são mantidos com uma temperatura e umidade controladas, porém não comentou sobre a luminosidade;
  • Sobre a questão de sua opinião sobre a história da boneca, na posição de administrador de coleções etnográficas e aquáticas do parque, Steffen se limitou a dizer que cada pessoa deve acreditar em seu ponto de vista pessoal sobre a boneca e os demais objetos do gabinete de curiosidades. Essa é uma resposta curiosa, porque há itens sabidamente falsos na atração, inclusive junto a boneca, e o próprio parque menciona isso;
  • Na parte final do email, Steffen disse que precisava confessar que a boneca tinha uma expressão extraordinária, mas que não a teria em sua casa, porque sente uma força negativa vindo dela.

Na tentativa de buscar a opinião de terceiros sobre essa boneca, entrei em contato com o Pollock’s Toy Museum,um pequeno museu e loja de brinquedos de Londres, cuja maior do acervo é de brinquedos da Era Vitoriana. O museu me respondeu alegando que não sabiam me dizer nada sobre esse tipo de boneca, uma vez que eles nunca tinham visto nada parecido. Porém, segundo eles, aparentemente, a boneca poderia ter sido de fabricação caseira ou artesanal, ou seja, não teria sido produzida em larga escala por um fábrica. Além disso, eles nem mesmo sabiam se esse “objeto” poderia ser realmente classificado como boneca ou brinquedo, uma vez que não seria destinado a diversão de uma criança.

Também tentei contato com o Dunster Dolls Museum e o V&A Museum of Childhood para saber se eles podiam me auxiliar a identificar essa boneca, e se também já tinham ouvido falar de tal história, porém até o momento da publicação desta postagem não houve nenhuma resposta.

Conclusão

A história de que uma boneca envelheceu no sótão de uma casa nos Estados Unidos é completamente falsa. Essa história circula na internet, em diversas versões e com diversas imagens diferentes do que seria a boneca original, desde 2009, porém é tão somente uma mentira propagada por um livro questionável sobre fotos de supostos fantasmas, na Inglaterra.

Em relação a boneca de pano/tecido, ao que tudo indica com olhos de vidros, e que serviu de base para a criação dessa história, nada indica que tenha sido utilizada em rituais de exorcismo na Era Vitoriana. A boneca pertencia a coleção de Palmer Hudson, falecido em 2002, que alegou ter comprado a boneca em meados do século XX, em uma loja de quinquilharias, nos Estados Unidos, e posteriormente foi repassada a Robert Hudson, seu genro. A loja muito provavelmente promovia a boneca ao simplesmente contar uma história fantástica sobre ela, e suas supostas mudanças de fisionomia, mas sem nenhuma base credível, verificável ou minimamente comprovável. Não é possível descartar também, que a boneca não seja tão antiga quanto é alegado, que tenha sofrido modificações ao longo do tempo ou que o próprio Palmer possa ter inventado tal história. Não há nenhum laudo de uma instituição, laboratório ou museu especializado nesse sentido.

Atualmente, a boneca encontra-se em uma das atrações do parque temático belga “Pairi Daiza”, no interior de um expositor de vidro, ao lado de outros objetos sabidamente falsos. Apesar das imagens aparentarem, que a boneca não esteja em um ambiente com temperatura e luminosidade controlados, Steffen Patzwahl, diretor honorário e administrador de coleções etnográficas e aquáticas do parque alegou que os objetos no expositor, incluindo a boneca, são mantidos sobre temperatura e umidade controladas. Steffen disse que sentia uma força negativa vindo da boneca, porém ao ser questionado sobre sua posição profissional em relação ao histórico dela, ele se limitou a dizer, que cada pessoa devia acreditar em seu ponto de vista pessoal sobre a boneca, e os demais objetos do gabinete de curiosidades. Essa foi uma resposta curiosa, porque há inúmeros itens sabidamente falsos na atração, e o próprio parque menciona isso em seu site oficial.

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Marco Faustinohttp://www.e-farsas.com/author/marco
Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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24 COMENTÁRIOS

  1. Uma dica. Na página inicial do site, onde ficam as últimas postagens, vocês colocam uma palavrinha em vermelho como “crimes”, “Teorias” ou “acidentes”. No entanto, em algumas postagens já está escrita a palavra “falso”. Acho que isso pode acabar tirando o interesse de alguns leitores em ler a matéria por já saber que se trata de algo falso. Só uma opinião.

  2. Gilmar, eu acompanho seu site há muito tempo e nunca parei para comentar aqui.
    Só comentando agora para te dar parabéns pelo conteúdo do seu site.
    Hoje em dia é muito mais fácil ganhar dinheiro na internet com sites que só respostam piadas antigas, entrar em uma banheira de Nutella, ficar gritando em vídeo ou achando que é humorista.
    Enquanto você segue para o caminho contrário. Um conteúdo sério e realmente útil!
    Continue assim, meu amigo. Você é uma das raras pessoas que faz da internet um lugar melhor.
    Abraços

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  4. Gilmar, eu acompanho seu site há muito tempo e nunca parei para comentar aqui.
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  5. Amo muito o e-farsas desde meados de 2005, vcs são os melhores! Mas uma dica: conclusões mais concisas. Acredito que uma galera assim como, pula pra conclusão pra ler a resposta da pergunta e depois volta pra ler o artigo completo. Acredito que uma conclusão mais enxuta ajuda, porque quando o conteúdo inteiro está na conclusão, eu, e provavelmente a galera que tem esse costume, dificilmente volta pra ler o resto hahahaha

  6. Ótimo artigo, me prendeu do começo ao fim!

    Pena que não há nada oficial a respeito da tal boneca, seria interessante saber da real origem dela, apenas como fator histórico.

    Abraços, continuem com o bom trabalho!

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