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sexta-feira, março 29, 2024

Soldados brasileiros foram estúpidos e “trollaram” os alemães na Segunda Guerra Mundial?

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Recentemente, em nosso grupo no Facebook fomos questionados a respeito de uma determinada informação. Ela dizia que, certo dia, durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados brasileiros estavam com muito frio e acenderam uma fogueira. Porém, isso revelou a posição deles para os alemães que, em tese, deveriam ter atacado os brasileiros. Só que os alemães não atacaram, porque pensaram ser um emboscada. O motivo? Ninguém naquelas condições seria tão estúpido em fazer uma fogueira, que revelasse a sua posição.

Essa informação foi publicada no formato de um “meme” (ou “doodle”) na página “Vamos falar de História?“, no Facebook, que possui cerca de 1 milhão de seguidores. Inicialmente publicada em 11 de abril de 2019 (arquivo), a postagem já obteve cerca de 2,5 mil compartilhamentos.

Postagem publicada no dia 11 de abril de 2019

Esse mesmo “meme” foi republicado no dia 24 de abril (arquivo), obtendo mais 300 compartilhamentos. Evidentemente, esses números podem variar conforme a época que você estiver lendo nosso texto sobre o assunto.

Postagem publicada no dia 24 de abril de 2019

Entretanto, será que essa informação é verdadeira? Isso realmente aconteceu? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Verdadeiro ou Falso?

Muito provavelmente falso! Tudo indica que estamos diante apenas de uma lenda, não algo que realmente aconteceu conforme a primeira postagem categoricamente afirmou. Portanto, essa informação não passaria de uma história inventada por alguém, talvez baseada em um outro relato histórico envolvendo o acendimento de fogueiras por parte de soldados brasileiros na Itália. Qual relato? É exatamente isso que vocês vão saber a partir de agora!

A Busca pelo Vídeo que Conta a História Atrelada a Imagem

Ambas as postagens (a segunda é tão somente um compartilhamento da primeira) indicam que tal situação aconteceu. A situação consistiria no fato dos alemães não terem atacado os soldados brasileiros, porque pensaram que o acendimento de fogueiras seria uma emboscada. De acordo com o “meme” (ou “doodle”), ninguém tão estúpido faria isso numa guerra. Acredito que isso tenha ficado bem claro, certo? Ambas também apontam para um link, onde as pessoas poderiam assistir um vídeo contando essa história (encurtador.com.br/dzAT3). Esse link, no entanto, não funciona.

No entanto, em uma rápida pesquisa descobrimos o vídeo em questão. Ele pertence ao canal “Vamos falar de História?“, do YouTube. O vídeo intitulado “O dia em que soldados BRASILEIROS trollaram os soldados ALEMÃES” (arquivo) foi publicado no dia 11 de abril, e já obteve mais de 40 mil visualizações.

Uma Estranha Contradição!

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Esse vídeo é muito interessante, porque a partir de 1:42, eis o que o responsável pelo canal diz sobre esse caso:

Hoje eu irei compartilhar com vocês uma pequena história engraçada e inusitada. Se essa história realmente aconteceu ou se é apenas mais uma lenda de guerra, que os avós narravam para os seus netos, isso nunca saberemos, porém do brasileiro podemos esperar tudo.

Resumindo? A página no Facebook diz que a situação aconteceu, mas no vídeo publicado no YouTube não se tem a menor ideia se aconteceu ou não.

Assim sendo, passa a impressão que a postagem feita no Facebook teve como objetivo ser viralizada, para promover a própria página, não se preocupando em disseminar um fato verdadeiramente histórico para seus seguidores. Por se tratar de uma página, cuja premissa é falar sobre História, as pessoas acreditam e acabam compartilhando o que pode ser uma desinformação em potencial. É importante deixar claro, que não estamos afirmando que a página teve essa expressa intenção, apenas dizendo que esse costuma ser o modus operandi de quem dissemina desinformação, travestida de fatos históricos, nas redes sociais.

O vídeo também não diz exatamente quando e onde a situação aconteceu, e nem mesmo os nomes das pessoas envolvidas. Não foi apresentada nenhuma fonte credível, diário ou documento histórico, que atestasse a veracidade de tal história. Enfim, não há absolutamente nada comprovando que isso realmente aconteceu.

Não há absolutamente nada comprovando que isso realmente aconteceu.

Logo, isso seria encaixado, na melhor das hipóteses, como uma lenda. Vale ressaltar nesse ponto, que uma lenda é uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos. De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas podem combinar fatos reais e históricos com fatos irreais, que são meramente produto da imaginação aventuresca humana.

Um Relato Histórico que Pode ter Servido de Inspiração

Ao fazer uma busca por situações semelhantes, que envolvessem a FEB (Força Expedicionária Brasileira) durante a Segunda Guerra Mundial, encontramos uma informação bem interessante. Em setembro de 2015, o jornalista Luiz Carlos Azenha entrevistou um outro jornalista, Paulo Henrique Amorim (PHA), que estava prestes a lançar um livro chamado “O Quarto Poder – Uma Outra História“. Toda a entrevista, inclusive, pode ser vista no Vimeo. Contudo, a parte que nos interessa está num artigo do Luiz Carlos Azenha para o site “Vio Mundo”.

Ao comentar sobre o livro de PHA, ele disse que: “Poucos leitores, ouvintes e telespectadores se dão conta de que, na carreira de um repórter, mais da metade do que ele vê, ouve ou apura nunca é publicado, seja por falta de confirmação imediata, por desagradar editores ou patrões.

Trecho de uma publicação de Luiz Carlos Azenha para o site “Vio Mundo”

Uma História Pessoal de Luiz Carlos Azenha

Então, ele resolveu contar uma história pessoal. Confira abaixo:

“Tenho um exemplo pessoal: quando Bonn ainda era capital e a Alemanha Ocidental existia, fui até lá entrevistar o então embaixador dos Estados Unidos, Vernon Walters. Na Segunda Guerra Mundial, ele foi o oficial de ligação entre o Exército dos Estados Unidos — Walters era coronel — e os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), despachados para lutar na Itália sob comando norte-americano.

Na entrevista, Walters foi só elogios à bravura e à capacidade dos soldados brasileiros. Desligada a câmera, passou a contar o ‘outro lado’: sem uniformes adequados para o inverno europeu e despreocupados com a guerra, os brasileiros acendiam fogueiras durante a noite para enfrentar o frio e ele tinha de despachar subordinados para explicar aos aliados que, com o fogo, se tornavam alvo fácil para a artilharia inimiga.”

Vernon Walters, no centro da imagem.

Esse relato de Vernon Walters denota duas coisas:

  1. Soldados brasileiros realmente acendiam fogueiras durante a noite para enfrentar o inverno europeu;
  2. Não era necessário nenhum ataque de infantaria por parte dos alemães, ou seja, não havia risco de emboscada. Bastaria um ataque à distância, com elementos de artilharia.

A informação propagada pela página “Vamos falar de História?” diz que os alemães só não atacaram, porque pensaram que era uma emboscada. Isso não faz sentido, porque não seria necessário um combate corpo a corpo. Conforme foi dito anteriormente, bastaria utilizar elementos de artilharia.

Bônus: A Foto Utilizada Para Compor a Imagem

A foto utilizada para compor a imagem é verdadeira, mas não faz referência direta a situação relatada pela página. Segundo o blog “Memórias do Front“, o homem na foto era o soldado Francisco de Paula, identificação militar nº 1G-192925. Francisco, assim como outros 5.075 homens, era membro da 1ª Divisão Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira, durante a Segunda Guerra Mundial.

Foto divulgada pelo blog “Memórias do Front”

A foto possui ainda em seu verso a inscrição das fotos de imprensa do tempo da guerra.

Ele jamais poderia adivinhar que seu rosto e sua função seriam destacados pelo fotógrafo de guerra Pvt. Laurence V. Emery, em 29 de setembro de 1944. Na foto acima vemos o soldado Francisco de Paula carregando um canhão 105 mm com um recado aos alemães: A Cobra está Fumando! Caso queiram saber maiores detalhes sobre o soldado, cliquem aqui (vale muito a pena conferir!).

Já para saber maiores informações sobre atuação do Exército Brasileiro na Segunda Guerra Mundial, cliquem aqui.

Conclusão

Toda essa história é muito provavelmente falsa! Tudo indica que estamos diante apenas de uma lenda, não algo que realmente aconteceu conforme a postagem da página “Vamos falar de História?”, no Facebook, categoricamente afirmou. Portanto, essa informação não passaria de uma história inventada por alguém, talvez baseada em um outro relato histórico envolvendo o acendimento de fogueiras por parte de soldados brasileiros na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.

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Marco Faustinohttp://www.e-farsas.com/author/marco
Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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24 COMENTÁRIOS

    • Sim, como visto, o e-farsas entende bem de reportagem e apuração, só não muito de guerras, a conclusão da página foi mais acertiva nesse ponto, pq em uma guerra a noite, quando vc atira, vc revela sua posição, só seria possível com alvos fumando no caso de ataques a distância, onde não se manteria a posição por muito tempo. Realmente foi errado da parte da FEB acender as fogueiras, e realmente o certo seria se pensar que era uma “emboscada”.

      • as posicoes de artilharia atiram de lugares de onde seu clarão não possa ser visto justamente para poder acertar sem revelar sua localização.

  1. Brasileiro e seu complexo de vira-latas é uma merda mesmo…

    A Força Expedicionária Brasileira é homenageada até hoje na Itália, eles tem um respeito enorme pelos pracinhas. O Sabbaton, uma banda de metal sueca, já fez música para homenagear 3 heróis brasileiros na 2ª guerra e nós só sabemos tirar o sarro.

    • Esses que tiram sarro da FEB devem ser os mesmos que reverenciam Hitler como um gênio militar. A verdade é que Hitler foi um péssimo estrategista e perdeu a 2ª Guerra graças a seus próprios erros. Mesmo tendo a história para ensiná-lo ele invadiu a Rússia e foi derrotado como Napoleão pelo inverno russo. Permitiu ao Japão atacar os EUA, que foi o ponto de viragem da 2ª Guerra. Desprezou o fuzil de assalto, preferindo investir na produção de metralhadoras, embora os alemães tivessem o melhor fuzil já produzido até então (o StG-44). Perseguiu gênios da física e química somente porque eram judeus, vários desses perseguidos se juntaram aos EUA e ajudaram a desenvolver a bomba atômica.

  2. Brasileiro e seu complexo de vira-latas é uma merda mesmo…

    A Força Expedicionária Brasileira é homenageada até hoje na Itália, eles tem um respeito enorme pelos pracinhas. O Sabbaton, uma banda de metal sueca, já fez música para homenagear 3 heróis brasileiros na 2ª guerra e nós só sabemos tirar o sarro.

    • Esses que tiram sarro da FEB devem ser os mesmos que reverenciam Hitler como um gênio militar. A verdade é que Hitler foi um péssimo estrategista e perdeu a 2ª Guerra graças a seus próprios erros. Mesmo tendo a história para ensiná-lo ele invadiu a Rússia e foi derrotado como Napoleão pelo inverno russo. Permitiu ao Japão atacar os EUA, que foi o ponto de viragem da 2ª Guerra. Desprezou o fuzil de assalto, preferindo investir na produção de metralhadoras, embora os alemães tivessem o melhor fuzil já produzido até então (o StG-44). Perseguiu gênios da física e química somente porque eram judeus, vários desses perseguidos se juntaram aos EUA e ajudaram a desenvolver a bomba atômica.

  3. Bando de ignorantes que nunca estudaram história querendo ser vira-latas! A FEB foi verdadeiramente heroica na 2ª Guerra! Em Collecchio e Fornovo, mesmo em inferioridade numérica, bateram 2 divisões do exército alemão (incluindo uma de panzers) e 2 do exército italiano que lutavam juntas. Nessa ocasião um general alemão de 3 estrelas, Otto Fretter, condecorado 2 vezes com a Cruz de Ferro (a mais alta condecoração alemã para atos de bravura em combate) rendeu-se com suas tropas aos brasileiros. Os brasileiros foram à Europa lutar por liberdade e pela democracia. Isso deve soar mal aos ouvidos de muita gente hoje. Por isso a tentativa de desmoralizá-los!

  4. Bando de ignorantes que nunca estudaram história querendo ser vira-latas! A FEB foi verdadeiramente heroica na 2ª Guerra! Em Collecchio e Fornovo, mesmo em inferioridade numérica, bateram 2 divisões do exército alemão (incluindo uma de panzers) e 2 do exército italiano que lutavam juntas. Nessa ocasião um general alemão de 3 estrelas, Otto Fretter, condecorado 2 vezes com a Cruz de Ferro (a mais alta condecoração alemã para atos de bravura em combate) rendeu-se com suas tropas aos brasileiros. Os brasileiros foram à Europa lutar por liberdade e pela democracia. Isso deve soar mal aos ouvidos de muita gente hoje. Por isso a tentativa de desmoralizá-los!

  5. Mesmo usado artilharia, os alemães poderiam desperdiçar munição atirando num alvo que poderia ser deliberadamente falso. A tatica de usar alvos falsos, para atrair ou tirar as forças alemãs do caminho, foi muito utilizada na 2ª guerra, até mesmo no dia D foi utilizado para fazer os alemães acreditarem que o desembarque seria em Pas de Calais e também com manequins com fogos de artficios disfarcados de paraquedistas que atraiam o fogo alemão. Então é plausivel que eles evitariam desperdiçar recursos contra uma fogueira.

  6. Mesmo usado artilharia, os alemães poderiam desperdiçar munição atirando num alvo que poderia ser deliberadamente falso. A tatica de usar alvos falsos, para atrair ou tirar as forças alemãs do caminho, foi muito utilizada na 2ª guerra, até mesmo no dia D foi utilizado para fazer os alemães acreditarem que o desembarque seria em Pas de Calais e também com manequins com fogos de artficios disfarcados de paraquedistas que atraiam o fogo alemão. Então é plausivel que eles evitariam desperdiçar recursos contra uma fogueira.

    • Sim, como visto, o e-farsas entende bem de reportagem e apuração, só não muito de guerras, a conclusão da página foi mais acertiva nesse ponto, pq em uma guerra a noite, quando vc atira, vc revela sua posição, só seria possível com alvos fumando no caso de ataques a distância, onde não se manteria a posição por muito tempo. Realmente foi errado da parte da FEB acender as fogueiras, e realmente o certo seria se pensar que era uma “emboscada”.

      • as posicoes de artilharia atiram de lugares de onde seu clarão não possa ser visto justamente para poder acertar sem revelar sua localização.

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