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A Operação Lava Jato caiu numa fake news envolvendo Lula e um crucifixo!

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A Operação Lava Jato caiu numa fake news envolvendo Lula e um crucifixo!

A Operação Lava Jato caiu numa fake news envolvendo Lula e um crucifixo!

Mensagens trocadas entre promotores e juízes da Operação Lava Jato revelam que houve uma tentativa de prender o ex-presidente Lula baseada numa mentira da internet!

No dia 9 de março de 2016, o procurador da República Deltan Dallagnol ajudou a mobilizar 200 policiais federais e 30 auditores da Receita Federal para o cumprimento de 33 mandados de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva. Os objetivos da megaoperação eram recuperar um objeto de decoração religioso que Lula – segundo “investigação” da Lava Jato – teria roubado de seu gabinete ao deixar a presidência e prender o ex-presidente em flagrante pelo roubo da peça.

O objeto, um crucifixo de cerca de 1,5m de altura, todo esculpido em madeira, teria sido roubado por Lula quando ele deixou a presidência, em 2011.

Acontece que todo o trabalho envolvendo a busca pelo suposto fruto do roubo se baseou em uma fake news, em uma mentira espalhada na web, pois o crucifixo era do próprio Lula!

Entenda o caso, aqui no E-farsas:

O crucifixo, alvo de buscas da Lava Jato, estaria no gabinete desde o mandato de Itamar Franco! (foto: Reprodução/Google Images)

Fake News caríssima

Deltan Dallagnol se baseou em um boato digital que se espalhou na web em 2016, que afirmava que Lula teria roubado um crucifixo do gabinete presidencial ao deixar o cargo, em 2011. Só que o que a força-tarefa da Lava Jato, que envolveu 200 policiais federais e 30 auditores da Receita Federal, não averiguou – antes de gastar mais dinheiro do contribuinte à toa – que a peça religiosa já era do Lula antes dele ser eleito!

De acordo com reportagens da época, a obra entalhada em madeira foi de propriedade do bispo de Duque de Caxias, Monsenhor Mauro Morelli, que a colocou à venda e foi adquirida pelo empresário José Alberto de Camargo R$ 60 mil.

A imagem sagrada do Jesus crucificado foi dada então de presente ao amigo Lula, que o levou ao Planalto quando venceu as eleições presidenciais pela primeira vez, em 2003.

Voltando a esse trabalho desastroso da Lava Jato, mensagens trocadas entre procuradores e coordenadores da força-tarefa mostram que o objetivo era o de prender em flagrante o ex-presidente Lula pelo roubo da peça, visto que “de acordo com publicações da internet”, o crucifixo já estava no gabinete da presidência desde o mandato de Itamar Franco (como podemos ver na foto abaixo, usada como “prova”):

Uma das fotos usadas como indício de que o crucifixo decorava o gabinete presidencial há anos! (foto: Reprodução/Google Images)

Aqui, um dos trechos da conversa entre coordenadores da Lava Jato:

Imagem: Reprodução/The Intercept Brasil

Após o deslocamento das centenas de policiais e do trabalho de inúmeros outros funcionários públicos (operação essa que teve até um cofre do Banco do Brasil aberto após mandado judicial), algum dos investigadores teve excelente a ideia de procurar na internet algo sobre o tal crucifixo em sites mais confiáveis. Uma matéria do site da revista Época, publicada em 2011, acabou com a megaoperação:

Reprodução/The Intercept Brasil

Nessa outra reportagem da Época, também de 2011, é mostrado que Lula recebeu mais de 8.000 presentes.

Mas e as fotos do crucifixo com um presidente antes de Lula?

Se o crucifixo foi um presente levado por Lula quando tomou posse em 2003, como explicar o objeto junto com presidentes antes dele?

Para responder a essa pergunta, basta uma simples busca no Google. A foto em questão foi tirada no dia 12 de maio de 2006, quando o ex-presidente Itamar Franco visitou o então presidente em exercício, o senador Renan Calheiros, no gabinete presidencial. 

Ou seja, era o Itamar que estava na foto na época do crucifixo e não o crucifixo que estava na foto na época de Itamar Franco (que foi presidente entre 1992 e 1995).

Outros supostos “roubos” do Lula

Em março de 2016, desmentimos aqui no E-farsas uma notícia que havia sido bastante compartilhada na ocasião. De acordo com a desinformação, a Polícia Federal teria encontrado um faqueiro de ouro em um cofre no Banco do Brasil em nome do ex-presidente Lula. O que espalharam foi que Lula havia roubado o faqueiro de valor inestimável e que o conjunto teria sido dado pela Rainha da Inglaterra como um presente ao então presidente do Brasil Costa e Silva.

Como apuramos na ocasião, a história era completamente falsa! O tal faqueiro sequer aparece entre os itens apreendidos na operação desastrosa da Lava Jato (que visava encontrar o crucifixo e usar a peça como prova para prender Lula). Você pode conferir a lista dos itens apreendidos aqui.

A foto do faqueiro, usada para espalhar a fake news, foi tirada de uma publicação de 2009 de um site de leilões:

Reprodução/QueBarato

Em 2018, surgiu outra peça de desinformação nas redes sociais e em grupos do WhatsApp envolvendo o nome do ex-presidente Lula e supostos itens roubados por ele. Em fevereiro daquele ano, checamos que a notícia que afirmava que a Polícia Federal teria encontrado no sítio de um amigo do Lula um cofre maior do que uma piscina cheio de pertences roubados pelo petista era falsa! 

Conclusão

Conforme apurado pelo site The Intercept Brasil, em março de 2016, a força-tarefa da Lava Jato desperdiçou dinheiro, tempo e pessoal numa megaoperação cujo objetivo era o de recuperar um crucifixo supostamente roubado por Lula que, na verdade, era do próprio Lula! O ocorrido é mais um dos exemplos de como uma fake news pode causar sérios danos e prejuízos ao contribuinte.

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

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