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Tatuagem polêmica retrata um bebê com uma faca cravada na cabeça?

Indeterminado

Tatuagem polêmica retrata um bebê com uma faca cravada na cabeça?

Tatuagem polêmica retrata um bebê com uma faca cravada na cabeça?

Será verdade que uma tatuadora feminista teria tatuado um bebê com uma faca (ou punhal) cravado na cabeça, na barriga de uma cliente? Bem, ao menos foi isso que alguns sites e perfis nas redes sociais publicaram recentemente aqui no Brasil. A absoluta maioria também alegou que a tatuagem era uma clara apologia ao aborto!

Embora esse caso tenha repercutido de forma relativamente modesta, tanto no Brasil quanto no exterior, achei importante trazê-lo ao conhecimento de vocês.

Confira a foto da tatuagem:

Foto mostrando a polêmica tatuagem.

Assim como uma outra foto mostrando a tatuadora exibindo sua arte:

Foto mostrando a tatuadora e sua cliente.

Tudo que envolve diretamente arte atrelada ao comportamento pessoal sempre é motivo de polêmica, mas, de vez em quando, a falta de pesquisa e dados suficientemente claros, faz com que outras pessoas ajam por mero viés de confirmação. Na prática, isso quer dizer que elas passam a opinar mediante tão somente aquilo que acreditam e conhecem.

Portanto, será que estamos realmente diante de um bebê com uma faca cravada na cabeça? Qual a origem desse desenho? A tatuadora é realmente feminista? A tatuagem faz apologia ao aborto? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Como Toda a Polêmica Começou: A Denúncia de Laura Klassen

Toda história tem um começo e felizmente sabemos como toda essa polêmica começou. No dia 19 de setembro de 2019, a ativista pelos Direitos Humanos, Laura Klassen, que também é fundadora e diretora de uma ONG canadense pró-vida (contra o aborto) chamada “Choice42” (@choicefortwo) fez uma denúncia através de seu perfil no Twitter e no Instagram.

Confiram o que ela publicou:

Tuíte da usuária Laura Klassen.

Post da usuária Laura Klassen.

Conforme vocês puderam notar, Laura não forneceu mais detalhes sobre a tatuadora ou sobre a tatuagem que havia sido feita. Inclusive, ela divulgou incorretamente o nome de usuária da conta da tatuadora. Não iremos divulgar o nome original da conta, porque essa acabou sendo uma condição para conseguirmos uma entrevista com a cliente, ou seja, a mulher que quis fazer essa tatuagem em seu corpo (daqui a pouco vocês poderão conferir o que ela disse).

Enfim, Laura não disse que se tratava de uma feminista, mas evidentemente deixou implícito que se trataria de um bebê. Afinal de contas, ela é contra a prática do aborto.

A Repercussão no Brasil

As publicações de Laura Klassen, tanto no Twitter quanto no Instagram, não tiveram tanta expressividade em termos de viralização. No Twitter, por exemplo, não alcançou nem mil compartilhamentos (retuítes).

Contudo, no dia seguinte (20) esse caso foi parar no site “Conexão Política”, com o seguinte título: “Tatuadora feminista posta fotos de tatuagem de bebê com faca encravada na cabeça, feita na barriga de cliente.

Captura de tela mostrando um trecho do que foi publicado pelo site “Conexão Política”.

O texto dizia que a foto e a tatuagem faziam apologia ao aborto, e que a tatuadora era feminista e estrangeira. Além disso, dizia que fotos como essas deveriam ser denunciadas e não aceitas pela sociedade.

A publicação também citou a opinião de um usuário no Twitter, que por sua vez alegou que “a foto da tatuagem servia de alerta, quando alguém vinha e dizia falsamente que nenhuma mulher gostava de abortar”.

Confira o tuíte, abaixo:

Tuíte do usuário citado pelo site “Conexão Política”.

Posteriormente, alguns outros sites, a exemplo do “Pleno.News“, “Conservadorismo Brasil” e “AM Post“, alegaram que a mulher era favorável ao aborto.

Doses de Realidade Por Trás de Toda Essa História

Agora que vocês viram a tatuagem, quem originalmente fez a denúncia e a repercussão desse caso aqui no Brasil, acreditamos que seja muito importante fornecer a vocês algumas doses de realidade por trás de toda essa história. De antemão, avisamos que não há resposta fácil para ser dada, mas mostraremos o que não foi mencionados por tais sites. E isso pode, efetivamente, mudar os rumos que esse caso tomou.

Quem é a Tatuadora? Ela é Realmente Feminista e Favorável ao Aborto?

Até onde apuramos a tatuadora, que chamaremos apenas por “A.”, é norte-americana e moradora do Estado do Texas (não diremos o nome da cidade onde ela mora). Infelizmente, não tivemos acesso direto ao seu perfil no Instagram antes que fosse definido como “privado” pela usuária. Por outro lado, tivemos acesso a uma antiga versão recente de seu perfil, armazenada em cache, onde não vimos nenhuma publicação que fizesse apologia ao aborto ou indicasse que “A.” fosse “feminista” (num torpe sentido expressamente pejorativo e comumente ventilado na internet).

Mesmo sem acesso ao seu perfil no Instagram fizemos uma ampla pesquisa em mecanismos de busca e não encontramos outras tatuagens, ao menos recentes, que fizessem apologia ao aborto ou a matança indiscriminada de bebês.

Confira abaixo alguns desenhos e tatuagens feitas por “A.”:

Alguns desenhos criados por “A.”.

Algumas tatuagens criadas por “A.”.

Mais alguns desenhos e tatuagens feitas por “A.”.

Os desenhos dessa tatuadora, embora bem característicos entre si, costumam ser bem fantasiosos. Ela aparenta ser aficionada por borboletas e foi extremamente fácil encontrar fotos onde ela aparece confraternizando com amigos – mulheres e homens – e até mesmo ao lado de crianças em determinados eventos de temática country. Portanto, a tatuadora não parece alguém que utiliza o Instagram para publicar conteúdo satânico ou fazer apologia indiscriminada a matança de bebês (práticas que ela passou a ser acusada posteriormente por populares).

Entramos em Contato com Laura Klassen

Através do Twitter, fizemos alguns questionamentos a Laura Klassen, uma vez que foi dela a principal denúncia disseminada nas redes sociais. Questionamos, por exemplo, se ela tinha visto o perfil público de “A.” e se havia encontrado algo que denotasse sua posição ideológica sobre o aborto. Isso porque “A.” vinha sendo chamada de bruxa” e “feminista matadora de bebês”.

Laura nos respondeu, ipsis litteris:

Sim, eu vi o perfil dela antes de ser privado. Não vi nada que pudesse significar uma posição sobre qualquer questão.

Em seguida, ela completou:

Contudo, não prestei muita atenção.

Entramos em Contato com “A.”

Através do Instagram entramos em contato com “A.” e questionamos o posicionamento dela em relação ao feminismo e ao aborto. Ela se limitou a dizer que a tatuagem não tinha qualquer posicionamento político. Infelizmente, “A.” não quis dar mais declarações, exceto essa, alegando que não estava a vontade para falar conosco sobre o ocorrido.

Duas Observações Feitas por Laura Klassen

Laura ressaltou dois pontos bem peculiares. Segundo ela, parecia estranho o fato da tatuagem ter sido feita naquela posição, se não fosse uma declaração sobre o aborto. Além disso, “A.” teria publicado as fotos utilizando um emoji de mulher grávida. Confira esse detalhe, abaixo:

Segundo Laura, parecia estranho o fato da tatuagem ter sido feita naquela posição, se não fosse como uma declaração sobre o aborto. Além disso, “A.” teria publicado as fotos utilizando um emoji de mulher grávida.

Embora os pontos destacados por Laura sejam válidos, tudo indica que “A.” teria “apenas” satirizado, ainda que de forma bem questionável, esse delicado tema na descrição de sua publicação. Sim, parece estranho dizer isso, mas não estamos defendendo nenhum lado. Sequer esse é o nosso papel como site de verificação de fatos. Acalmem-se e prestem muita atenção no que iremos dizer a seguir.

O Desenho Não Foi Criado por “A.”! É a Antiga Capa de um Disco de 1982 da Banda Californiana “The Fuck-Ups”

A tatuadora “A.”, de fato, fez essa tatuagem no corpo de uma amiga chamada Rachie. Contudo, o desenho não é de sua autoria. É uma antiga capa de um álbum (um mini LP de 7″) chamado “Fu82”, da banda californiana de punk-hardcore “The Fuck-Ups”.

Versão considerada rara do mini LP “FU82”.

Detalhes do álbum “FU82” (versão prata do mini LP).

Essa banda tinha uma certa relevância no cenário underground da cidade de São Francisco, na Costa Leste dos Estados Unidos, na década de 1980. Composta por quatro membros – Bob Noxious (vocalista, falecido em 2008), Byron C. Haines (baterista), Joe Dirt (guitarrista) e Sean Tuchy (baixista) – a banda lançou um único LP, em 1982, contendo seis músicas.

Embora tivesse sido apelidada como a banda “mais detestável” da década de 1980 (principalmente pelas atitudes grotescas do vocalista Bob Noxious, que costumava atacar fisicamente membros outras bandas) e fosse politicamente incorreta (algo inerente ao gênero musical, diga-se de passagem), nenhuma das músicas falava sobre o aborto ou feminismo. Aliás, havia um trio de jovens mulheres – Victoria, Leslie e Virginia (falecida em 2008) – denominadas “The Fuckettes”, que viajavam com a banda e atuavam como backing vocals!

Confira abaixo algumas fotos relacionadas a banda “The Fuck-Ups”, assim como as “The Fuckettes”:

Havia um trio de jovens mulheres – Victoria, Leslie e Virginia – denominadas “The Fuckettes”, que viajavam com a banda e atuavam como backing vocals!

Algumas fotos da banda “The Fuck-Ups”.

A banda “The Fuck-Ups” fazendo um show em São Francisco, em 1982.

As Músicas do Álbum “FU82”

Conforme dissemos anteriormente, o álbum “FU82” possuía seis músicas e nenhuma delas abordava a questão do aborto e do feminismo. As letras eram bem simplórias, diga-se de passagem. Eram basicamente canções carregadas de raiva, consideradas “racistas” por algumas pessoas e revistas (dependendo da interpretação de cada um), e tidas como “politicamente incorretas”. Há quem diga que o vocalista usava camisetas com estampas sobre o “orgulho branco” e até mesmo uma suástica em alguns shows.

Entretanto, também há quem dia que os integrantes não eram pessoas ruins, apenas “idiotas que faziam isso para só chamar a atenção e irritar todo mundo”. Enfim, deem uma olhada nos nomes das músicas: “White Boy, “I Think You’re Shit”, “Negative Reaction”, “I Hate You”, “Once I Had A Brother” e “Get Out”.

Caso queiram, vocês podem ouvir o mini LP (com direito a música bônus), no YouTube:

O Desenho Não Retrataria um Bebê! Seria um Gigante?

Embora muitos fãs e possuidores de alguma versão do álbum “FU82” acreditem que a capa retrate um bebê com uma faca/punhal na cabeça, estaríamos, na verdade, diante de um gigante!

Assim que a polêmica sobre essa tatuagem aportou no Reddit (uma rede social composta por fóruns de discussão), um usuário chamado “AryanEmbarrassment” apresentou uma explicação, um tanto quanto interessante, para a capa do álbum.

Comentário do usuário “AryanEmbarrassment”.

Eis alguns trechos mais relevantes do que ele disse:

(…) Muito conhecido entre os fãs de punk-hardcore, o álbum é um registro fundamental no desenvolvimento do punk-hardcore dos anos 80, sendo muito procurado. É uma estampa de camiseta muito comum no cenário do punk-hardcore. Também não é um bebê, mas acho que, considerando a posição da tatuagem, acho que entendo o porquê as pessoas aqui pensaram que seria. Eles costumavam tocar com os Dead Kennedys, pois as duas eram bandas de São Francisco.

Há também uma segunda capa mais rara, após o artista ter retirado a permissão da arte original (chamada ‘I killed the monster’, e a versão completa mostra esse ‘bebê’ como sendo um gigante derrubado no chão por garotinho com arco e flecha – a banda pegou só a parte do monstro para usar como capa) (…)

(…) No entanto, presumi que o fato de ter sido extraído de uma imagem maior, que é literalmente uma referência a Davi e Golias, ajudaria vocês a se convencerem de que não era para ser um bebê, uma referência ao aborto ou remotamente satânico.

Outros Elementos Indicam que Não Seria um Bebê

É interessante apontar, que existem outros elementos denotando que não seria um bebê. Como exemplo, podemos notar a presença de uma arcada dentária completa e mamas bem avantajadas.

Também é importante ter em mente que estamos diante da capa do álbum de uma banda controversa de punk-hardcore, ou seja, seria “perfeitamente normal” que eles utilizassem somente uma parte de uma arte bem mais ampla para gerar polêmica, chamar a atenção e se destacar na multidão ao fazer as pessoas acreditarem que se trata de bebê, quando, na verdade, seria um gigante. Se a tatuadora e a cliente fossem fãs da banda (daqui a pouco daremos essa resposta) e soubessem previamente dessa história, não haveria problema algum. Afinal de contas, cada um é livre para tatuar o que quiser e onde quiser.

Só Tem um Pequeno Problema!

Reviramos a internet em busca da versão completa dessa arte mencionada pelo usuário “AryanEmbarrassment”, mas não encontramos nada. Também entramos em contato, sucessivas vezes, com esse usuário no Reddit, porém ele não respondeu as nossas mensagens. Isso não quer dizer, é claro, que a arte não exista, apenas não a encontramos. Contudo, por outro lado, não podemos atestar isso com base em um único comentário.

Resumindo? Embora não haja indicativos que o desenho retrate um bebê, e tudo indique que possa ser realmente um gigante retirado de um contexto muito mais amplo, não temos como atestar isso devido a ausência da arte original. Isso é uma questão de cautela para evitar eventuais injustiças.

A Tatuadora “A.” Teria Sido Ameaçada de Morte?

No dia 21 de setembro, dois dias após Laura Klassen denunciar a tatuagem, ela resolveu colaborar com a tatuadora para evitar que a situação saísse de controle em seu círculo social. Isso porque a tatuadora teria sido ameaçada de morte – uma situação classificada como inaceitável por parte de Laura.

Laura publicou um trecho da conversa que teve com a tatuadora, onde ela alegou que a tatuagem não tinha nenhuma relação com o aborto. Ela também alegou que deixou a conta em modo privado, devido ao assédio moral que vinha recebendo, ou seja, não eram apenas meras reclamações e críticas, conforme alguns sites mencionaram.

Publicação de Laura Klassen, no Instagram.

Entrevistamos a Rachie, a Cliente que Resolveu Fazer a Tatuagem Considerada Polêmica

Sinceramente, atualmente falta diálogo no mundo. Falta ouvir o outro lado antes de fazer ilações para agradar o próprio ego ou a própria plateia. Assim sendo, entramos em contato com a Rachie, que gentilmente nos concedeu uma rápida entrevista.

Como condição, Rachie pediu para que não mencionássemos no artigo seu nome de usuária na plataforma utilizada para a entrevista. Ela também pediu para que não houvesse links direto ou menção ao nome completo e nome de usuária de sua amiga, a tatuadora “A.”

Entramos em contato com a Rachie, que gentilmente nos concedeu uma rápida entrevista.

Vamos a entrevista!

1) Acredito que essa seja a principal pergunta, que muitas pessoas fizeram, quando se depararam com aquelas imagens. Por que você fez essa tatuagem?

R: Fiz a tatuagem, porque eu gosto do disco que utiliza o desenho em sua capa. A imagem é realmente um gigante, não um bebê, e isso vem de uma arte que mostra um menino lutando contra o gigante. Essa pessoa explica isso bem: https://www.reddit.com/r/prolife/comments/d6hzox/abortion_has_created_a_culture_of_death/f0xu17h/

2) Tentei encontrar a arte que mostra esse “bebê” como sendo um gigante derrubado por um garotinho com um arco e flecha, mas não encontrei nada. Você tem essa imagem?

R: Infelizmente, não tenho a imagem ou o nome do artista. A banda “The Fuck-Ups” também não tem músicas sobre o aborto. Eles sequer têm músicas sobre violência ou nojentas, porque eles são uma banda de punk. Contudo, ainda que eu tivesse uma tatuagem explicitamente violenta tirada da arte do álbum de uma banda de metal, ficaria muito surpresa por tantos brasileiros se importarem tanto assim.

3) Você imaginou que a tatuagem poderia ter toda essa repercussão ou pensou que poderia sofrer consequências à medida que as redes sociais estão se tornando cada vez mais caóticas?

R: Não, pra ser sincera, não, porque vejo tatuagens malucas e com violência gráfica o tempo todo. E, mesmo quando as pessoas reclamam, porque não gostam de tatuagens que outras pessoas fazem, nunca vejo tantas pessoas se importando. É porque foi politizado e as pessoas fizeram muitas suposições sobre mim e minha amiga.

4) Você tem alguma posição política sobre o aborto ou pertence a um movimento feminista?

R: Feminismo significa igualdade e acredito completamente que todas as pessoas são iguais, é claro.

Os abortos são uma realidade, sejam eles legais ou não. Existem graves consequências para as mulheres que não têm acesso seguro ao aborto. Acho que as pessoas que se consideram pró-vida esquecem quantas vezes eles não expressam preocupação (ou até desdenho) pelas mulheres que estão nessa situação.

5) Se você soubesse que era um bebê, não um gigante, ainda faria uma tatuagem por gostar de uma música ou da capa de um álbum? Você acredita que a arte deve estar acima de tudo e de todos?

R: Bem, essa é uma pergunta complexa. Não acho que a arte seja mais importante do que pessoas ou a moralidade. Então, mesmo que eu dissesse que sim, caso mudasse de gigante para bebê, e eu ainda assim gostasse, isso não significa que acredito que a arte é mais importante do que toda a raça humana ou algo assim. A televisão e os filmes são incrivelmente violentos e explícitos, e têm muito mais impacto na sociedade do que meu estômago.

6) Para concluir e não tomar mais o seu tempo, você gostaria de deixar uma mensagem para todas as pessoas que julgaram você e sua amiga nas redes sociais?

R: O Cristianismo e a internet são uma mistura perigosa. Você vai para o inferno muito mais rápido por ameaçar a vida de uma garota, da qual você não conhece nada, na internet, do que por replicar a imagem de uma facada fictícia. Confie em mim.

Detalhes Muito Interessantes Que Constatamos a Partir da Conversa com Rachie e de sua Rede Social

No dia 17 de setembro, dois dias antes da polêmica em torno dessa tatuagem começar, Rachie pediu um conselho em sua rede social (não iremos republicá-lo aqui). Ela disse que estava com problemas intestinais, que estava prestes a fazer uma tatuagem no estômago, e que as coisas ficariam rapidamente feias. Durante a entrevista, Rachie citou que a televisão e os filmes tinham mais impacto do que seu estômago. Isso denota que, embora a tatuagem esteja bem abaixo, o pensamento de Rachie teria sido tatuar a região do estômago, não necessariamente a região do “ventre materno”.

Embora Rachie tenha se apresentado favorável ao feminismo (no sentido de igualdade entre as pessoas) e tenha mostrado uma posição favorável ao aborto (expressamente por uma questão de saúde da mulher), ela é realmente fã de bandas de punk-rock, punk-hardcore etc.. Ela realmente curte álbuns antigos. Além disso, antes da nossa entrevista, ela já se mostrava muito revoltada com as pessoas (as quais ela taxou de supremacistas brancos) que achavam que ela tinha feito uma tatuagem sobre o aborto. E, para completar, ela alegou ser judia.

Conclusão

Falar sobre arte e pessoas é sempre uma tarefa árdua. E, uma vez que este artigo aborda uma série de questões será necessário pontuar nossa conclusão.

  • A Tatuagem Retrataria um Bebê com uma Faca Cravada na Cabeça?

O desenho da tatuagem não é de autoria da tatuadora. Na verdade, sua origem remonta a uma antiga capa de um álbum (um mini LP de 7″) chamado “Fu82”, que foi lançado justamente em 1982, pela banda californiana de punk-hardcore “The Fuck-Ups”. Embora a banda fosse considerava controversa, as letras de suas músicas não falavam sobre o aborto, tampouco sobre feminismo. As letras eram bem simplórias, e há quem dia que os integrantes não eram pessoas ruins, apenas pessoas que queriam chamar a atenção e irritar todo mundo.

De acordo com um usuário no “Reddit”, o desenho não retrataria um bebê, mas um gigante com uma faca cravada na cabeça. Segundo ele, esse gigante foi extraído de uma outra arte bem maior, que incluiria um garotinho portando um arco e flecha. Posteriormente, o autor da obra não teria permitido que sua arte continuasse sendo utilizada como capa, e uma outra versão de capa, de cor amarela, foi criada para substituir as anteriores. É interessante apontar, que existem outros elementos denotando que não seria um bebê. Como exemplo, podemos notar a presença de uma arcada dentária completa e mamas bem avantajadas.

Existe um bom conjunto probatório indicando que não seja, de fato, um bebê, mas não encontramos a arte original e muito menos seu autor. Questionamos a Rachie – a cliente que resolveu fazer a tatuagem – mas ela não tinha a arte original e também não sabia o nome do autor. Tentamos entrar em contato com o usuário no “Reddit”, porém não tivemos retorno.

Portanto, por uma questão de precaução, classificamos temporariamente a alegação sobre o desenho retratar um bebê como “Indeterminado”. Caso essa arte seja encontrada futuramente reclassificaremos esse ponto.

  • Rachie Fez a Tatuagem Como Apologia ao Aborto?

Não encontramos qualquer indicativo, de caráter público, que Rachie tenha feito a tatuagem como apologia ao aborto. Embora Rachie seja favorável ao feminismo – no sentido de pregar a igualdade entre as pessoas – e tenha uma posição favorável ao aborto – expressamente por uma questão de saúde de mulher- tudo indica que ela fez a tatuagem por simplesmente ser a capa do álbum de uma banda que ela gosta. Antes de fazê-la, ela chegou a expressar que a localização da tatuagem seria no estômago, não no “ventre materno”.

Portanto, classificamos a alegação de que Rachie fez a tatuagem com o objetivo de fazer apologia ao aborto como “Falso”.

  • A Tatuadora é Feminista, Favorável ao Aborto e Celebrou a Morte de Bebês?

Aparentemente, houve uma generalização apressada em taxar a tatuadora “A.” como feminista pró-aborto, em tom depreciativo e estereotipado, como se houvesse uma espécie de celebração festiva em torno da morte de bebês de sua parte. Assim como Laura Klassen, exceto por um emoji, não encontramos quaisquer indícios, de caráter público, que pré-qualificassem a tatuadora dessa forma.

De acordo com Laura (ao menos até onde ela notou), o perfil da tatuadora não apresentava qualquer posicionamento ideológico sobre o aborto. Também não encontramos, publicamente ou através de armazenamento em cache, quaisquer desenhos ou tatuagens feitas por “A.” que fizessem referência ao aborto ou a morte indiscriminada de bebês. Para completar, é interessante destacar também, que a denúncia original de Laura Klassen não vinha acompanhada de quaisquer adjetivações, ou seja, Laura evitou pré-julgar a pessoa, e focou apenas no desenho.

Especificamente em relação ao emoji, que constava na descrição de sua publicação, no Instagram, tudo indica que a tatuadora tenha feito uma sátira, ainda que de gosto questionável, e de forma intencional ou precipitada, sobre o aborto. Por outro lado, tudo indica que a celebração em si foi relacionada a realização da tatuagem, que por sua vez remonta a capa de uma banda, que tanto ela quanto a Rachie gostam.

Portanto, classificamos temporariamente a alegação de que tatuadora é feminista e favorável ao aborto como “Possivelmente Verdadeiro”. Caso tenhamos mais informações comprobatórias no futuro, reclassificaremos esse ponto. Já a alegação relacionada a celebração da morte indiscriminada de bebês, por parte da tatuadora, classificamos como “Falso”.

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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