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sexta-feira, março 29, 2024

É verdade que o BNDES doou bilhões de dólares para países comunistas?

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Colagem de fotos afirma que o BNDES doou bilhões de dólares para financiar obras em países de governos ditatoriais e/ou comunistas durante gestões de governos anteriores! Será verdade?

As imagens não são novas, mas voltaram a circular através de grupos de WhatsApp e Telegram no final de janeiro de 2022. O texto que acompanha as fotos de obras afirma que o Brasil teria doado, por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bilhões de dólares para países governados por ditadores da América do Sul e África usarem em 17 obras faraônicas, como U$ 11 bilhões para a Venezuela e 14 bilhões para a Angola.

Será que esses dados são reais?

1 – Ponte sobre o Rio Orinoco – custo de R$ 1,2 bilhão – FALSO

A construção da ponte sobre o Rio Orinoco, na Venezuela, não foi financiada pelo BNDES. Em 2003 surgiu a notícia afirmando que o Brasil iria emprestar R$300 mil para a construtora que ia tocar a obra, mas isso não se concretizou.

Em 2006, o então presidente Lula participou da inauguração da ponte que faz divisa com o Brasil e, como a solenidade ocorreu dias antes das eleições presidenciais na Venezuela, muita gente acusou o ato de eleitoreiro.

2 – 127 ônibus articulados para a Colômbia – U$ 30 milhões – FALSO

Não encontramos nada referente à compra de ônibus articulados para a Colômbia nos dados disponibilizados pelo BNDES. Em 2011, o BNDES aprovou financiamento no valor total de US$ 90 milhões para exportação, pela Scania Latin America Ltda, de até 454 ônibus fabricados no Brasil para a Colômbia. 

Os veículos foram destinados às operadoras de serviços de transporte público de passageiros do Sistema Integrado de Transporte Público de Bogotá (SITP), mas não se trata de doação!

3 – Venezuela U$11 bilhões – EXAGERADO

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Conforme mostrado pelo BNDES em seu site, o banco emprestou à Venezuela US$ 1,5 bilhão entre 1998 e 2019 (e não 11 bilhões). Além disso, o governo venezuelano já pagou quase toda a dívida, devendo “apenas” US$ 352 milhões ao Brasil.

4 – Ferrovia Sarmiento, na Argentina – U$ 1,5 bilhão – FALSO

Diferente do que a corrente afirma, não houve investimento e/ou empréstimo do BNDES para obras na Ferrovia Sarmiento, na Argentina! As obras não foram financiadas e foram executadas pela construtora Odebrecht. 

O BNDES desmentiu essa afirmação em seu perfil do Twitter: 

Em 2019, foram abertas investigações na Argentina para apurar possíveis superfaturamentos nas obras.

5 – Hacia El Norte, na Bolívia – U$ 200 milhões – FALSO

Em 2015, foi aberto um pedido na CPI do BNDES onde esse caso foi investigado e nada foi encontradoO BNDES já desmentiu algumas vezes essa história:

Aliás, no portal do BNDES não consta empréstimos à Bolívia:

6 – Cuba U$ 3 bilhões – EXAGERADO

Em nota, o BNDES explicou que houve U$ 656 milhões em empréstimos para Cuba e que a ilha ainda deve US$ 62 milhões ao Brasil.

A dívida é para ser paga em 25 anos e Cuba vinha pagando em dia até 2018, quando parou de pagar.

7 – Angola 14 bilhões – FALSO

O BNDES explica que, nesse tipo de financiamento o banco desembolsa os recursos exclusivamente para a empresa brasileira que vende ou presta o serviço no exterior. Esse dinheiro serve para viabilizar obras de engenharia como a construção de estradas, usinas hidrelétricas e casas populares, por exemplo — mas não cobre todo o empreendimento, apenas os bens e serviços brasileiros exportados para uso naquela obra.

O BNDES explica também que emprestou US$ 3,2 bilhões entre 1998 e 2017 para Angola e que o país quitou todas as parcelas antes do prazo combinado em dezembro de 2019. Angola quitou a dívida que tinha com o BNDES 5 anos antes do previsto, conforme dados do site do Governo Federal.

8 – Hidrelétrica de Tumarín (Nicarágua) U$ 1,1 bilhão – FALSO

O BNDES não financiou essa obra: 

9 – hidrelétrica Manduriacu (Equador) U$ 125 milhões – IMPRECISO

De acordo com o documento assinado pelo BNDES, foram emprestados U$ 106 milhões para o Equador, que deve atualmente 49 milhões do total e não tem nenhuma parcela em atraso.

10 – Metrô em Caracas – 732 milhões – IMPRECISO

O Brasil emprestou via BNDES cerca de US$ 690 milhões para a construtora Odebrecht (e não para Caracas) para as obras de expansão do metrô em Caracas, na Venezuela. No entanto, as obras atrasaram muito e apenas metade delas foi entregue até 2019.

11 – Aeroporto de Nacala, em Moçambique – 200 milhões – EXAGERADO

Em nota de 2017, o BNDES explica que financia a exportação de bens e serviços de engenharia, mas “essas operações se referem, exclusivamente, à parcela de bens e serviços brasileiros utilizados nas obras, que não incluem, por exemplo, gastos locais“.

O BNDES também explicou que essas operações são feitas no Brasil, em reais e que o financiamento do BNDES foi de 125 milhões e não 200 milhões.

Em 2020, a dívida foi renegociada.

12 – Via Expressa Luanda-Kifangondo, em Angola – FALSO

Não tem nada de sigilo nos valores referentes a empréstimos concedidos à Angola e, como já mostramos, a Angola já quitou a sua dívida com o BNDES bem antes do combinado.

13 – Projeto Bayovar – Peru – FALSO

Em 2009, a construtora Andrade Gutierrez recebeu um empréstimo de U$ 58 milhões. Já o país, que havia recebido U$ 348 milhões do BNDES, não deve mais nada.

14 – Argentina – U$8 bilhões – FALSO

A Argentina recebeu um total de U$ 2 bilhões, faltando 47 milhões para quitar toda a dívida.

15 – Aqueduto do Chaco na Argentina – U$180 milhões – FALSO

O BNDES esclareceu, em 2017, que não iria financiar o aqueduto do Chaco. 

16 – BRT de Maputo, em Moçambique – U$ 220 milhões – FALSO

A obra de implantação do BRT (um sistema rodoviário para ônibus) em Maputo (Moçambique) também não consta na lista de projetos financiados pelo BNDES

17 – Rede de gasodutos em Montevidéu, no Uruguai – U$ 300 milhões – FALSO

Não encontramos nada referente a isso nos dados do BNDES.

Auditoria milionária não encontrou nada

Em 2019, o Governo Federal gastou R$ 48 milhões em relatório de investigação externa referente a operações do BNDES entre os anos de 2005 a 2018 e a auditoria não encontrou indícios de corrupção.

Em junho de 2021, o presidente Jair Bolsonaro admitiu publicamente que não existe uma “caixa-preta no BNDES”. O termo era usado para acusações de irregularidades na instituição durante os governos anteriores.

Conclusão

A lista de supostas doações bilionárias feitas pelo BNDES para outros países é falsa! 

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Gilmar Lopes
Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas. Trabalha com PHP e banco de dados Oracle e é especializado em criação de ferramentas para Intranet. Em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar também tem um espaço semanal dentro do programa “Olá, Curiosos!” no YouTube e co-apresenta o Fake em Nóis ao lado do biólogo Pirulla! Autor do livro de ficção Marvin e a Impressora Mágica!

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